Crítica de cinema e público

O cinema reflete a dualidade entre apreciação artística e entretenimento para diferentes espectadores, gerando uma suposta divergência entre críticos e o público.

Público acompanha exibição do filme Ingresso para o Paraíso, George Clooney e Julia Roberts, no Espaço Itaú de Cinema | Foto: Eduardo KnappFolhapress

Essa tão falada divergência existente entre a opinião dos críticos de cinema e do público é, na verdade, só aparente. Inclusive muitos amigos meus (e mesmo muita gente de jornal) dizem que quando o crítico elogia um filme, já sabem que o cinema está vazio. Na maior parte das vezes, isso realmente acontece. Outras vezes, não, o público gosta de um filme elogiado pela crítica.

Mas a pessoa que se apega somente a esse fato, fica na aparência da realidade. Não a penetra. Não se aprofunda.

O cinema é a arte, atualmente, que maior contato tem com o público. É a arte, por excelência, do consumo. E com isso traz em si todas as implicações.

O crítico de cinema é alguém que, em geral, tem uma visão de mundo que implica considerar a arte como algo capaz de aprofundar o nosso conhecimento da realidade. Pra mim, por exemplo, um bom filme me diz coisas que provavelmente eu não teria condições de ver, sem utilizá-lo como intermediário. Quero dizer, eu quero o cinema como um instrumento de prazer quase espiritual. E tem essa mesma visão uma certa camada de público, pequena, mas consciente. Essa é a que melhor se aproveita do trabalho do crítico.

Entretanto, a maior parte das pessoas procura no cinema um digestivo. Da mesma forma que bate uma “pelada”, ou vai visitar o zoológico com os filhos, ou escuta uma música romântica de Waldir Calmon. Essas pessoas não podem gostar de uma obra que apresente maior profundidade, porque elas não têm mentalidade para tanto. Gostam do que lhes encham a vista om paisagens, mulheres bonitas, violência (no sentido visual). Só podem gostar de filmes como “Os Mansos”.

Não há divergência entre a crítica de cinema e o grande público. E isso porque, simplesmente, o que há é uma procura de objetivos totalmente diversos.

(Jornal do Commercio, Recife, 30.10.1973. No livro “Obra Jornalística de Celso Marconi – Cinema Brasileiro Volume I”)

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