Cultura no Campo

Com o lançamento do livro “Contos, Causos e Poesias do campo amazonense”; do CD “Música do Campo” e da peça teatral “Aventuras de um extensionista na Ilha da Paciência”, foi encerrado o II ETAF – Encontro dos Trabalhadores da Agricultura Familiar, do estado do Amazonas.

A realização desse projeto é a materialização de um compromisso assumido desde à nossa posse na Secretaria de Estado da Produção Rural (Sepror), em 2007. O livro e o CD são de autoria exclusivamente de trabalhadores e trabalhadoras rurais. E que beleza, tanto de poesia quanto de música.

A sessão cultural foi realizada no palco do Teatro Amazonas, um dos mais belos e suntuosos do mundo em seu gênero. Ali, naquele templo cultural, mais de 700 trabalhadores rurais foram os donos da festa: cantaram, recitaram poesias e assistiram a um belo espetáculo teatral que retrata o seu mundo e a sua maneira de ser.

O livro trata de assuntos variados da realidade do campo. Expressa uma rica cultura existente em todos os quadrantes desse imenso estado. Toda essa rica cultura estava latente e nunca, infelizmente, foi devidamente valorizada e realçada.

O CD segue a mesma lógica. As suas composições tratam de assuntos relacionados ao extrativismo, pesca, agricultura, lendas, as relações sociais e o mundo pitoresco da Amazônia. Até onde temos conhecimento esse é o primeiro CD gravado exclusivamente por trabalhadores do campo.

A peça teatral é por si só um belo espetáculo. Afora alguns pequenos reparos é uma obra digna de ser admirada em qualquer parte do mundo. É, ademais, uma forma mais adequada e plástica de se fazer extensão e assistência técnica. Aborda de forma séria e ao mesmo tempo irônica as contradições entre a impetuosidade do jovem extensionista e a “cautela”, o comedimento típico do povo do campo. De forma extremamente plástica retrata, de um lado, a ansiedade do jovem extensionista empenhado em verbalizar seus conhecimentos, mudar o modo e a forma de viver daquela gente simples e, do outro lado, a resistência dos agricultores a qualquer nova idéia, como bem nos ensina a dialética ao considerar que “o novo nega o velho e o velho nega o novo”. A peça é simplesmente extraordinária.

Mas é bom ressaltar que essas ações não são aleatórias. Correspondem a uma política definida pela Secretaria com base em fundamentos como policultivo, sustentabilidade ambiental, contemporaneidade científica e tecnológica, eficiência econômica e justiça social, os quais são materializados através de 05 programas e vários projetos de trabalho.
Um desses programas é o “Sócio Cultural”, cuja finalidade é desenvolver projetos que elevem o padrão econômico, social e cultural de homens e mulheres que trabalham no campo. E seus projetos perseguem, dentre outros, a organização coletiva, a construção de casas populares para trabalhadores rurais, oficinas de teatro, esporte no campo e a produção de peças, livros e CD, como esses que acabam de ser produzidos.

A importância desse projeto é autoexplicavel. Mas creio ser importante destacar que as primeiras oficinas teatrais realizadas tiveram um alcance que vai muito além do aspecto estritamente cultural.

Avaliações posteriores realizadas por organizações não governamentais informam que os primeiros jovens preparados nessas oficinas mudaram o seu modo de ver as coisas. As oficinas melhoraram a auto-estima, realçaram suas qualidades de oratória e lhe deram maior capacidade de interlocução com os demais atores sociais.

Eles se sentiram um pouco senhores de seus destinos. E é precisamente isso que nós queremos estimular.

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