Cultura Viva e as linguagens artísticas 

Uma abordagem revolucionária para a democratização cultural e a emancipação humana através das artes

Cortejo de maracatu cearense | Foto: reprodução/Renato Soreno

O Cultura Viva, principal política pública  de promoção da cidadania cultural é retomado, após o processo de descontinuidade nos governos Temer e Bolsonaro. Iniciada em 2004 e se tornado Política de Estado em 2014, o Cultura Viva tem caráter revolucionário,  enquanto inovação conceitual da política pública,  no que concerne a sua perspectiva de entrelaçamento entre as diversas áreas do conhecimento,   sua capilaridade de transversalidade e reconhecimento da diversidade e pluralidade estética, identitária, econômica, social e política do país.  Ao mesmo tempo que impulsionou e impulsiona a cadeia da economia da cultura, representando descentralização de recursos públicos, fortalecimento econômico e político dos  territórios e potencialização a luta pelo direito à cidade. Enquanto movimento político, a partir das suas redes de articulação latino-americano, o Cultura Viva vem se consolidando na defesa de uma outra cultura política de sociedade baseada na socialização da solidariedade, democratização da economia e  emancipação humana.

O arcabouço teórico e político tanto, da Política Pública como do movimento Cultura Viva apontam para radicalização da democracia cultural, considerando a limitações do Estado e a dimensão da utopia da sociedade civil.  Esse é um  demarcador do Cultura Viva, o que o  diferencia das demais políticas públicas para cultura. Ou seja, o Cultura Viva não pode ser concebida como mais uma política de editais, mais uma forma de repasse de recursos públicos para a sociedade. Não é uma política de fomento para “projetos”,  mas para a construção de uma novo tipo de sociedade.

O debate sobre Cultura Viva e a acessibilidade artística  é urgente, necessário e central para defesa da democracia e cidadania cultural. Inevitavelmente temos duas questões evidentes:  compreender e se apropriar do conceito do Cultura Viva e a outra é refletir sobre a produção e circulação das artes no capitalismo:  A quem se destina e para que serve? 

As linguagens artísticas historicamente  foram excluídas do cotidiano das camadas populares, em especial, as chamadas produções eruditas, que estão intimamente ligadas ao próprio  acesso ao conhecimento científico, tecnológico, filosófico e estético, consequentemente a uma elite econômica e intelectual. A história das sociedades divididas em classes sociais distintas apresentam uma estratificação social do acesso a produção simbólica. Predominante é destinado  a classe trabalhadora uma produção simbólica a serviço do mercado,  da dominação, da  alienação e manutenção da classe dominante no poder.  No capitalismo o acesso às artes é atestado de privilégio, prestígio e dinheiro. 

O Cultura Viva transita numa lógica inversa ao do mercado das artes. As linguagens artísticas no Cultura Viva devem constituir em instrumentos de humanização. O acesso as artes devem compor o repertório de defesa dos direitos  humanos e de emancipação. A socialização das artes devem permear a mesma luta pela socialização da sociedade e essa é a centralidade política, comunal e revolucionária do Cultura Viva.

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