Cúmplice da Vida

Poucos intelectuais brasileiros aventuraram-se, na teoria e na prática, como Darcy Ribeiro. Antropólogo, literato, cientista social e ativista político. Fundamentalmente, um homem que carregou em sua alma o Brasil por toda uma vida. Olhou o mundo para mel

Polêmico, atraiu, em seus escritos e posições, imenso respeito, inveja e vários adversários. Afirmava que a maior obra sobre o país é “Casa Grande e Senzala”, pelo que ela desvendou, e desmistificou, a formação antropológica do país. Principalmente, em relação aos trópicos e à miscigenação, elementos de riqueza do nosso componente civilizatório.


 



Como ele mesmo disse, tratava-se de ampliar o olhar de Gilberto Freyre, a sua imensa contribuição sobre a nossa formação, sob o ângulo das lutas sociais, principalmente, do ponto de vista dos oprimidos. Acrescentando, na excepcional mistura que originou o brasileiro, um maior valor sobre a civilização indígena.


 


Dessa grande descoberta de Freyre, continuada por Darcy, há uma espetacular revolução que desmantelou as teorias sobre as raças puras, e com elas o nazismo e suas variantes, decisiva para a nossa auto-estima como projeto de civilização, nos aspectos cultural, sociológico e até político.


 


Mergulhou na compreensão da América Latina em seu conjunto, caracterizando o seu conteúdo histórico, na contribuição inovadora à humanidade.


 


Mesmo assim, levou o seu barco para águas mais profundas e turbulentas, misturou ciência com ação política militante, uma combinação normalmente explosiva tanto em um caso quanto no outro.


 


Partindo de Gilberto Freyre, destruiu o mito, importado de cientistas  europeus e norte-americanos, bastante difundido, e aceito em parte do mundo acadêmico, de que os nossos males eram de origem. “Os tristes trópicos”. Ao contrário, contestou, vinham da longa exploração externa, dos séculos de graves desajustes econômicos e sociais internos.


 


Sua obra, contribuiu para “suportar o orgulho de ser brasileiro”, tanto nas alegrias quanto nas tempestades. Ministro de Estado, fundador da Universidade de Brasília, filósofo, exilado, vice-governador do Rio, apaixonado, crítico dos intelectuais dissociados da realidade concreta, Darcy afiançava que cada um de nós, era cúmplice do destino da nação.

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