Cutucando o diabo com os pés no chão

A política é como a vida de cada um de nós: combinar o desejo com a possibilidade é essencial, para evitar frustrações; pois não basta que o desejo parta de uma necessidade objetiva.

Na esfera pessoal e particular, trata-se de medir o tamanho das pernas (muitas vezes do orçamento familiar) ou da própria competência. Quantas vezes a gente não se vê na contingência de redimensionar objetivos, reduzindo expectativas, para tornar exeqüível o que queremos?


 


Na luta política, a medida das possibilidades via de regra depende da correta avaliação da correlação de forças. Daí perguntarmos diante de uma determinada proposta: É justa? É oportuna? É viável?


 


O PCdoB, através do seu Comitê Central, decidiu apresentar à sociedade brasileira a proposta de cinco reformas democráticas: além da reforma política, as reformas da educação, tributária progressiva, agrária e urbana. A intenção é arrostar problemas


estruturais indispensáveis à viabilização de um projeto nacional de desenvolvimento sustentado, com distribuição de renda, preservação do meio ambiente e integração sul-americana.


 


Cutucando o diabo com pernas curtas? Nada disso. Cutucando o diabo, sim, porque são enormes e poderosas as forças econômicas e sociais que se opõem ao sentido democrático dessas reformas; admitem que as desejam, porém dentro do figurino neoliberal concentrador da renda e da riqueza, socialmente excludente e internacionalmente vulnerável.


 


O diabo, nesse caso, tem força e sabe resistir através de mil artimanhas e da ação parlamentar capitaneada pelo PSDB e DEM (ex-PFL). Mas não se trata de vara curta, não: a realidade brasileira objetivamente reclama tais reformas como necessidade premente e, na medida em que a luta por elas ganhe fôlego, amadurecerão as condições sociais e políticas para que se concretizem. É uma questão de tempo; de habilidade, firmeza e capacidade mobilizadora.


 


Então, os comunistas se propõem a cutucar o diabo com vara de tamanho que dá pro gasto e com os pés no chão. Buscam o apoio dos partidos da base governista e do próprio governo. Pretendem encetar ampla mobilização do povo. Mais: agem com a consciência de que tais reformas, ainda que possam ganhar contornos avançados, por si mesmas não resolverão os problemas cruciais do país; mas permitirão uma aproximação real das possibilidades de resolvê-los adiante.


 


A luta não será fácil, nem terá desenlace rápido. Mas, de começo, já tem o dom de alterar a postura dos que resistem às ameaças de reformas de sentido neoliberal (trabalhista, previdenciária e a reforma do Estado): deixa de ser simplesmente reativa e se torna propositiva – e articulada com a defesa de bandeiras imediatas de grande alcance, pela elevação real do salário mínimo, diminuição da jornada de trabalho e da taxa de juros real, desenvolvimento soberano com inovação científica e tecnológica, fortalecimento e ampliação do MERCOSUL, integração sul-americana.


 


Tudo vai depender do grau de participação do povo mobilizado pelas suas entidades representativas.

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