Disputas que se entrelaçam

Se Lula consolida sua vantagem sobre o principal opositor, Bolsonaro, por que igual tendência não acontece com candidaturas estaduais receptoras do aval explícito do ex-presidente?

Candidato ao Governo de Pernambuco Danilo Cabral ao lado de Lula e Paulo Câmara | Foto: Ricardo Stuckert

Agora que a campanha eleitoral propriamente dita toma corpo impulsionada pela propaganda na TV, institutos de pesquisa combinam as apurações do pleito presidencial com a peleja pelos governos estaduais.

Eis um caso em que cabe a expressão nem tudo que reluz é ouro.

São duas disputas que se entrelaçam, mas guardam particularidades e ritmos essencialmente distintos.

A começar pelas composições partidárias, que em torno das candidaturas à presidência da República ganham desenho próprio, que necessariamente não se repete em plano estadual.

Partidos que estão juntos para presidente se digladiam na busca de elegerem o governador do Estado.

Isso é próprio do sistema eleitoral vigente, que descola coligações nacionais e estaduais, agravado pela enorme diversidade regional que caracteriza a sociedade brasileira e se replica na esfera política institucional.

Ora, se Lula consolida sua vantagem sobre o principal opositor, Bolsonaro, por que igual tendência não acontece com candidaturas estaduais receptoras do aval explícito do ex-presidente?

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Porque uma coisa é uma coisa e a outra coisa é diferente, responde o sábio e sempre atento amigo Epaminondas.

São inúmeras as variáveis em plano estadual e é preciso analisar caso a caso.

O caso de Pernambuco, por exemplo.

Proliferam candidaturas majoritárias, entre as quais disputam cinco mais competitivas, num cenário em que o candidato da Frente Popular, deputado Danilo Cabral (PSB) enfrenta o fogo cruzado desferido por quatro outras candidaturas encorpadas, constituídas por ex-aliados.

Nas pesquisas mais confiáveis, Danilo ainda segue em quinto lugar com ligeiro crescimento após o início da propaganda na TV. A deputada Marília Arraes (Solidariedade, ex-PSB e ex-PT), lidera com folgada margem. Ambos têm em Lula o seu candidato à presidência da República.

Marília se beneficia do recall da mais recente disputa pela prefeitura da capital, quando ainda era do PT e exibia diariamente na TV sua imagem associada à de Lula; e Danilo, embora ex-secretário de estado, ex-vereador na capital, detentor de três mandatos de deputado federal e apoiado publicamente por Lula, ainda é relativamente desconhecido do grande público.

Entre esses dois extremos, as candidaturas da ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB e ex-PSB), Miguel Coelho (União Brasil e ex-PSB) e Anderson Ferreira (PL), outrora componente da Frente Popular e agora bolsonarista assumido.

Além de fatores diversos que dizem respeito, digamos, à subjetividade do eleitorado e sujeitas em grande medida ao confronto de ideias e imagens, deve pesar também a dimensão dos palanques constituídos por cada candidatura, centrados nas cidades polo do estado e na Região Metropolitana do Recife.

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Tudo indica que o pleito se decidirá num segundo turno.

Embora pareça que a candidata Marilia Arraes já atingiu o teto em intenções de voto e possa cair daqui por diante, certamente continuará na dianteira.

Contra quem? Não será surpresa se o seu oponente vier a ser o atual quinto colocado nas pesquisas, justamente o candidato da Frente Popular, Danilo Cabral, que encabeça a coligação mais numerosa (inclusive a federação PT-PCdoB-PV) e mais consistente, com maior tempo na TV e no rádio, e que conta com palanques mais fortes no interior do Estado.

Certamente este exemplo expressa muitas situações semelhantes pelo país afora.

Aos dirigentes partidários e estrategistas de campanha impõem-se, assim, mais ou menos complexos desafios táticos.

Por exemplo, embora seja curta a campanha, a escolha do adversário principal pode se alterar no curso da peleja, tendo em vista inclusive alianças futuras num hipotético segundo turno.

Ao final, tudo depende da escolha feita por quem efetivamente decide, o eleitor.

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