Dois filmes do cineasta Jordan Peele

Os filmes “Corra” e “Não, não olhe!”, do cineasta estadunidense Jordan Peele

Corra

Não é brincadeira não. Eu preferia não ter visto esse filme “Corra!”. Fui atraído para ele pelo fato de que o terceiro filme do diretor Jordan Peele “Não! Não olhe!” (Nope) ter recebido na revista “Cahiers du Cinéma” uma cobertura totalmente especial. Como filme do mês. Como o diretor é negro norte-americano, essa atitude da revista leva o espectador a pensar que está diante de um cineasta especial. E talvez seja.

“Corra!” foi o primeiro longa-metragem de Jordan Peele e tem todas as características do cinema hollywoodiano. Embora, ou talvez por isso mesmo, tenha uma estrutura em dois tempos totalmente separados. No primeiro, temos o namoro de um jovem casal formado por um moço negro e uma moça branca, e então eles vão participar de uma reunião de família na casa dos pais da moça. Tudo é contado na melhor forma de Hollywood, na forma extremamente contida de cada sequência, as conversas totalmente figuradas e com certo halo de civilizado erotismo. Depois, o rapaz é raptado na própria mansão e é colocado para ser submetido a uma ‘lavagem cerebral’. Nesse segundo tempo, a narrativa é mais solta e menos oficial do ponto de vista de Hollywood, mas não se perde. O que o filme me mostrou foi que esse diretor negro Jordan Peele é muito competente, mas pelo menos aí nesse filme não foge às normas estabelecidas.

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Gostaria de não ter visto esse filme que de certa forma é constrangedor. Primeiro, pelo convencionalismo da primeira parte, e segundo pela violência que está nele simplesmente para atrair um público que goste dessa violência. Do ponto de vista da atitude ideológica do diretor Jordan Peele, não demonstra que tenhamos uma obra que denuncie a prática de violência racista. É mais uma busca de excitação, mesmo que puramente intelectual e falsa.

Olinda, 16. 09. 22

Não

Filme “Não! Não olhe!” | Foto: Divulgação

O filme dirigido pelo cineasta norte-americano Jordan Peele se chama “Nope”, e no Brasil escolheram o título “Não! Não olhe!”. Confesso que ainda não sei explicar por que o diretor ou quem quer que tenha sido escolheu esse título. Só posso comentar que se trata de uma mudança de comportamento, pois há 50 anos nunca que um filme da cadeia comercial teria esse título. Ou então não teria público. Mas a verdade é que os comportamentos, mesmo o artístico nos dias atuais, são outros e principalmente já podem utilizar efeitos que antes eram ditos ou tidos como experimentais.

“Nope”, sem dúvida, é uma obra supernormal dentro da linha de produção hollywoodiana. E o meu interesse por ele foi pelo fato de que o número de setembro do “Cahiers du Cinéma” o ter colocado como filme especial do mês, com várias matérias sobre ele e inclusive uma entrevista de várias páginas feitas pelo editor da revista Marcos Dial com o diretor Jordan Peele. Eu vim a me aproximar de Jordan Peele conversando com meu filho Pedro Celso, que já o tinha visto e não tinha gostado, e também tinha visto o primeiro longa do diretor “Corra!”. Assim, pude me situar acerca desse cinema atual de Hollywood.

Então assisti a “Corra!” e considerei super esquemático na sua maneira de narrar. E em “Nope”, na verdade, considero que o diretor Jordan Peele o dirigiu tentando expressar um pensamento criativo, onde a sua maneira de criar cinema teria mais força do que os simples esquemas da indústria cinematográfica norte-americana.

Para chegar a essa conclusão, tive que trabalhar bastante. Pois além de ler todo o material da “Cahiers du Cinéma”, vi o filme “Nope” uma vez com áudio em inglês e legenda em espanhol, e depois vi “Nope” com áudio em inglês sem legenda. E para realmente entender todas as estórias, li todas as legendas em espanhol sem contar com a imagem. Só assim pude detalhar esse roteiro, embora ele seja tão simples.

Quanto ao fato do filme ter sido dirigido por um negro, realmente não há uma marca disso, e a obra se desenvolve como se fosse um norte-americano cineasta branco. A narrativa utiliza dois aspectos da cultura norte-americana, que são a ligação com cavalos e o interesse por discos voadores. E a televisão. A TV é utilizada pelo diretor como uma forma integral pela qual os fatos se desenvolvem. Tudo se passa numa fazenda na região de Hollywood, e o tataravô do dono atual da fazenda é um Haywood, e um fato que o atual Haywood sabe é que ele foi o primeiro ginete fotografado para mostrar imagem de cavalos e ele era negro. O filme se desenvolve dentro desse padrão de naturalidade. A vida na fazenda se desenvolve normalmente e acontecem alguns fatos como o desespero de um chimpanzé e o fato de uma nuvem estar parada há 6 meses, pois na verdade é um disco voador.

Parece que Kleber Mendonça Filho se interessou por “Nope” e o colocou em exibição no Instituto Moreira Sales, numa programação junto com o filme brasileiro “Marte Um” que vai representar o Brasil no Oscar no próximo ano. Na verdade, há uma aproximação entre a forma de utilizar a cultura popular junto com a tecnologia, tanto no filme de Jordan quanto em alguns pernambucanos, e “Bacurau” seria um deles e outro seria “Boi Neon”.

Olinda, 21. 09. 22

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