Eleição em Pernambuco: nem lama, nem sangue
É necessário situar o debate acerca de alternativas para o desenvolvimento de Pernambuco no âmbito de um projeto de reconstrução nacional
Publicado 30/06/2022 13:28

Não são poucas as vozes qualificadas e experientes que têm comentado o risco de rebaixamento do debate nas eleições deste ano em Pernambuco.
Não pela disputa presidencial, marcada aqui pela polarização entre Lula e Bolsonaro, sob alta temperatura, com larga vantagem para o ex-presidente.
O risco maior está na disputa pelo governo do Estado, que em meio a uma multiplicidade de candidaturas destacam-se 5 potencialmente competitivas: a do deputado Danilo Cabral pelo PSB, à testa da Frente Popular, versus quatro ex-aliados, hoje oposicionistas — Marília Arraes, Solidariedade; Raquel Lyra, PSDB; Miguel Coelho, União Brasil e Anderson Ferreira, PL.
Todos buscam um veio por onde possa ampliar sua base eleitoral.
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Marília aposta no recall da última eleição municipal no Recife, em que recebeu o apoio explícito de Lula. Porém concentra suas baterias num combate ao PSB, um dos seus ex-partidos, com tamanha ferocidade que beira o ódio.
Os demais tentarão, por mil argumentos, consistentes ou não, negar os feitos da Frente Popular nos últimos quatro governos liderados pelo PSB, com os governadores Eduardo Campos e Paulo Câmara.
Correndo por fora e sem maior expressão eleitoral, há outras candidaturas, na quase totalidade situadas à esquerda, que igualmente concentram o ataque nos socialistas.
Todos estão “com sangue nos olhos”, dizem.
O que faz lembrar uma “tese” que circulava aqui nos anos 80, segundo a qual campanha majoritária vitoriosa haveria de conter sangue e lama.
Na terceira década do século XXI e em estado historicamente politizado como Pernambuco, retroceder a esse baixo nível de disputa seria lamentável. Pois mais do que nunca é necessário situar o debate acerca de alternativas para o desenvolvimento de Pernambuco no âmbito de um projeto de reconstrução nacional.
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O país está destroçado pelo desgoverno Bolsonaro. O Estado nacional fragilizado. A busca de saídas para tamanha crise há de repercutir aqui aplicada aos desafios próprios da vida pernambucana.
Pois em que pese a integração completa das economias regionais à condição de economia nacional una, desde meados dos anos 70, persiste o recorte regional em qualquer projeto sério de desenvolvimento do país.
Na hipótese de um novo governo Lula, explorar plenamente o lugar próprio da economia instalada em território pernambucano traduz-se em desafio e possibilidade.
Nesse cenário, será possível elevar o nível do debate entre os contendores majoritários em Pernambuco? Se houver vontade política, sim.
Iniciada a campanha propriamente dita pós-convenções partidárias, que acontecerão entre julho e início de agosto, veremos.