Eleição sem Lula é fraude (mas devemos participar dela)

É dramático o ambiente político que antecede as eleições gerais marcadas para outubro. A perseguição ao ex-presidente Lula, com a sua ainda provável prisão, e o recente assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), dentre diversos exemplos, revelam um cenário em que prevalece o Estado de exceção, resultado da violação à democracia ocorrida com o golpe de 2016.

Amplia-se a exigência de que as forças progressistas, nesse momento decisivo da história do país, se debrucem sobre alternativas à crise, mas sempre partindo do pressuposto de que não estamos diante de um cenário de normalidade institucional.

É nítido que o governo ilegítimo de Michel Temer, entrosado com o capital financeiro e com a grande mídia, busca tornar o processo eleitoral um jogo de cartas marcadas, cujo único resultado possível seja a vitória de uma candidatura comprometida com a agenda neoliberal.

A palavra de ordem “eleição sem Lula é fraude” passa a ser empunhada pelo PT e diversas outras correntes do campo progressista. Ela é correta em sua essência. De que outra forma poderia ser qualificado um processo eleitoral onde o principal concorrente é retirado da disputa, por meio de uma condenação judicial sem provas? Tão logo alternativas começaram a ser gestadas no seio do petismo, imediatamente receberam o recado do consórcio golpista: o ex-prefeito Fernando Haddad foi indiciado pela Polícia Federal em janeiro deste ano, enquanto que o ex-governador Jaques Wagner teve sua casa invadida por agentes da mesma PF no mês seguinte. São – ou eram – os planos “B” do PT.

Evidente que as alternativas para a crise não se resumem ao PT que, por seu turno, possui um sem número de limitações bem conhecidas – dentre as quais um hegemonismo tolo que dificulta uma unidade maior entre correntes diversas e a formação da necessária frente ampla.

Do mesmo modo, as pré-candidaturas de Manuela D’Ávila (PCdoB), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) qualificam a disputa e buscam discutir alternativas para enfrentar a crise. Uma delas pode se tornar, mais adiante, o “fator unidade” das correntes democráticas, furar o bloqueio criado e vencer as eleições.

Mas não nos enganemos: os ataques ao PT e às suas lideranças nada mais são do que a continuidade do golpe. Seria um engano dos demais partidos e correntes de esquerda imaginar que não são os próximos da fila. O objetivo da direita é deixar proscritos os petistas, comunistas, socialistas, trabalhistas e todos que tenham algum compromisso, mesmo que apenas parcial, com um projeto nacional de desenvolvimento pautado na soberania, na democracia, nos direitos sociais e na diminuição das desigualdades.

Considerar que as eleições ocorrem em “condições normais de temperatura e pressão” não parece ser a melhor alternativa. Qualquer eleição limpa presume plena liberdade para o povo escolher livremente o candidato de sua preferência – e é certo que isto não ocorrerá em 2018.

Todavia, a constatação de que eleição sem Lula e em meio a esse estado de perseguição à esquerda é fraude não significa, automaticamente, a conclusão de que não devemos participar dela.

Na história republicana brasileira, praticamente todas as eleições foram fraudes. Ora manipulada por coronéis, outrora por ditaduras e/ou pela grande mídia. Mas nem por isso as correntes compromissadas com o interesse nacional deixaram de participar, sempre que possível.

Quer fraude maior do que um Colégio Eleitoral escolher o presidente da República, como ocorria na ditadura militar? O que não impediu que as forças consequentes se articulassem para, na fraude montada pelos militares, eleger Tancredo Neves em 1985 e derrotar a tirania.

Não é impossível que isso ocorra novamente nas eleições vindouras. Mas é preciso ter ciência de que as forças do atraso não vão deixar barato. Todas as opções estão na mesa – desde saídas casuísticas como o parlamentarismo ou semipresidencialismo, e até mesmo a não realização das eleições. Impedir que qualquer dessas alternativas seja levada a cabo se relaciona com a capacidade de mobilização e unidade do campo progressista, inclusive buscando atrair setores que hoje estão no campo adversário. A frente ampla torna-se uma exigência.

Além disso, se é verdade que é preciso denunciar a fraude, também é correta a assertiva de que não podemos nos resumir a isso. É preciso também apresentar e discutir com o povo brasileiro um projeto que aponte saídas para o Brasil – como vem fazendo a pré-candidata do PCdoB, Manuela D’Ávila – compreendendo a eleição como um importante palco de disputa de ideias e projetos. Resgatar a esperança, promover a unidade, ampliar as mobilizações e se preparar para todos os cenários possíveis são tarefas chaves para esse momento de resistência.

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