Em tempos de eleição: Uma questão étnico-racial

O modo de se vestir os difere da elite econômica do país, e não usar gravatas e roupas ocidentais é motivo de orgulho para os Collas. Tirando esse e alguns aspectos históricos, poucas são as diferenças entre os demais irmãos que dividem o chão da mesma pátria e que a exclusão socioeconômica (decorrente de questões étnicas) insiste em separá-los.

Os Collas são mais de 50% da população e a maioria entre os pobres e miseráveis. Consequentemente, sempre tiveram uma representação política pífia.

Embora não tenham sido escravizados, no início de sua colonização somente os colonizadores podiam votar e ocupar cargos públicos. Logo, os Collas estiveram alijados do poder em seu próprio país por séculos.

O resultado dessa discriminação histórica é que hoje os descendentes dos colonizadores, conhecidos como os Cambas (os brancos) ocupam posições de ponta na economia, controlam os meios de comunicação e também são predominantes nas regiões mais ricas do país, além de ser maioria nas forças armadas.

Porém, num desses milagres que a tal democracia burguesa tem realizado mundo afora, os Collas, num exemplo de união e de força, resolveram reagir e a quase de 10 anos elegeram um dos seus como presidente da república: Evo Morales.

Ele chegou à presidência desafiando aqueles que, historicamente, vêm discriminando sua etnia. Tomou posse como um indígena e não de terno como a elite branca de seu país. Nos poucos anos de poder, Evo tem dividido o tempo entre enfrentar quem nunca o respeitou e tirar a Bolívia do caos.

Tomou medidas consideradas populistas, como encampar a Petrobras e ameaçar o fornecimento de gás ao Brasil. Porém, o que mais chama a atenção em sua atuação é como ele tem enfrentado os poderosos de comunicação que vendem para o país e o mundo a imagem, de um presidente tosco, escondendo que, por trás de toda a campanha, existe de fato uma discriminação étnica pelo fato de o presidente boliviano não ser branco.

Isso ficou visível quando articularam uma campanha para dividir o país e formar uma nova república, em que a parte mais rica e branca, que incluía Santa Cruz de La Sierra, seria administrada pelos cambas.

A ação é sempre a mesma das elites latino-americanas de comunicação quando qualquer pessoa que não represente o ideário de sua construção ideológica chega ao poder. Isso aconteceu na Venezuela, na Bolívia e até no Brasil, embora aqui a discriminação fosse social, levando em consideração a origem humilde e nordestina do presidente Lula. O que nos leva a pensar: como será tratado o negro chegar a Presidência da República no Brasil? Estaria nossa elite preparada para dividir o poder com um diferente, com um negro?

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