Fim do mundo?

Anos atrás, em um genial artigo publicado na revista Princípios, Paulo Nogueira Batista Júnior mencionou que se alguém na época quisesse proferir uma palestra e atrair muita gente era bom botar logo no título a palavra “globalização”, muito em voga na épo

Hoje em dia, se algum pesquisador for debater sobre a dinâmica dos gases na atmosfera, certamente correrá o risco de falar para as moscas (a não ser que tenha uma chamada valendo presença para a turma ou seja assunto a ser cobrado em prova).  Mas experimente esse mesmo pesquisador abordar o mesmo assunto com um título diferente e mais pomposo, acrescentando o termo “mudança climática” no título da palestra. Provavelmente será um evento bastante concorrido.


 


 


De igual maneira, nas diversas publicações sobre o assunto, as palavras chaves (key words) têm que obrigatoriamente constar termos como aquecimento global, aumento do nível do mar, derretimento das geleiras, emissão de CO2, efeito estufa e tantos outros chamados, que mais parecem o ecoar das trombetas do apocalipse, para terem mais chances de serem lidos ou citados. Mesmo na academia é preciso saber vender o peixe.


 


 


Ninguém em sã consciência pode menosprezar o aquecimento global. É um fato e ponto final. Entretanto, causas e efeitos são discutíveis e o sensacionalismo que se faz sobre o assunto serve a propósitos ainda desconhecidos da grande maioria.


 



 
A indústria do medo (presente também nas universidades), que alimenta a histeria coletiva em sociedades como a dos Estados Unidos, concebe o tema como um prato cheio para alcançar seus objetivos. Quase nada se fala do padrão de consumo das sociedades capitalistas, mas quase todos apontam os dedos sujos de petróleo (como disse nosso presidente) acusando o crescimento das economias dos países mais pobres como sendo a causa dessa desgraça ambiental.


 


 


De igual maneira põem a Amazônia (latino-americana) no centro do debate como sendo um patrimônio mundial devido tão-somente ao fato de ser o pulmão do mundo. Ora, a Amazônia decerto é uma riqueza natural por outros motivos, pois na realidade, como todo ser vivo, esse bioma também respira e consome quase todo o oxigênio que produz (tente dormir num quarto cheio de plantas à noite e sinta a sensação de sufocamento). E os outros biomas que temos no Brasil e no mundo? O cerrado que cobre boa parte do aqüífero Guarani e é berço da maioria de nossas bacias hidrográficas, a Caatinga (único bioma restrito ao nosso país), a mata atlântica, o pantanal, os manguezais, as florestas de araucária e os mares de morros são quase que esquecidos devido a uma pauta ambientalista imposta de fora (e que acabamos engolindo) que desconsidera outras especificidades e peculiaridades.


 



 
Essa visão estreita e catastrofista é capaz de contagiar até mesmo os movimentos sociais. Muitas entidades ambientalistas fazem oposição a grandes obras no âmbito da integração energética continental, amparados no discurso pseudo-preservacionista, esquecendo-se de combater o inimigo central que não é o malfadado gás-carbônico (CO2).


 


 


A propósito, o aumento na emissão de gás-carbônico, do ponto de vista fotossintético, é excelente para as plantas (principalmente as C3, pois nas C4 o CO2 é fixado nas células normais do mesófilo formando malato ou aspartato e esses compostos são transportados para as células da bainha do feixe vascular onde são descarboxilados e o CO2 é refixado pela ação da rubisco seguindo o ciclo de Calvin, ou seja, uma dupla fixação), pois é o incremento de um substrato básico para a ocorrência das atividades fotossintéticas na planta (CO2 + H2O energia→ C6H12O6 + O2). Resumindo: do ponto de vista fotossintético é extremamente benéfico para as plantas o incremento de gás carbônico (estima-se o aumento de 1,6 ppm/ano de CO2 na atmosfera) para aumentar a difusão desse gás até o interior do espaço intercelular. Em contrapartida, o acréscimo dos níveis de CO2 vem acompanhado do aumento da temperatura que para as condições tropicais é indesejável e ainda pode acarretar na imprevisibilidade das chuvas. São muitas as implicações e todas muito complexas, mas o mais importante é que nenhum fator pode ser avaliado isoladamente. Ademais, outros gases são muito mais nocivos e nem sempre estão associados às industrias de base.


 


 


Por tudo isso vem em ótima hora o seminário sobre meio-ambiente promovido pela Fundação Maurício Grabois e pelo Partido Comunista do Brasil, que será realizado nos dias 28 e 29 de novembro em Belém, Pará. Será a oportunidade de promover um debate sério desenvolvido a partir de nossas potencialidades, capaz de apontar os rumos que queremos para o desenvolvimento sustentável compatível com a preservação do planeta.


 


 


É passada a hora de denunciarmos a hipocrisia dos países imperialistas e dizer que o planeta Terra pede a supressão do capitalismo. Antes de anunciarmos o fim do mundo, clamemos pelo fim do capitalismo.


 


 


Solidariedade


Toda força e solidariedade a Michael Genofre (que pude conhecer de perto por ser um destacado militante e dirigente da UJS) e a toda sua família e amigos, para que juntos possam se recuperar da trágica morte da menina Rachel. Que consigam forças para continuar lutando por um Brasil menos doente e violento.

As opiniões expostas neste artigo não refletem necessariamente a opinião do Portal Vermelho
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