Imaginando a flor

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Na última semana, Afonso Cláudio foi palco da 1ª Mostra Capixaba de Cinema Rural. O Centro Cultural José Ribeiro Tristão ganhou uma cenografia com referências cinematográficas dando destaque às 16 obras que ali seriam apresentadas, representando os 16 municípios da região Centro-serrana. Localizado no alto de uma colina, com uma vista que abarca toda a cidade e as montanhas à sua volta, o visitante sentia de imediato um deleite todo especial ao se defrontar com a beleza e a magia da paisagem.

Resultado de quatro meses de oficinas ministradas a jovens entre 14 e 24 anos, durante as quais eles assimilaram as técnicas básicas para a criação de um documentário sobre a sua cidade e as figuras humanas marcantes que a habitam, a mostra contou com a presença entusiasmada de pelo menos 700 adolescentes oriundos dos municípios concorrentes aos cinco troféus ofertados. Além de assistirem aos próprios filmes e a uma programação paralela que incluía apresentações musicais e películas em 35mm, a convivência saudável e a troca de ideias naquele cenário incomum foi um dos pontos marcantes do evento.

A qualidade técnica e estética dos 16 vídeos apresentados era desigual, mas percebia-se na maioria deles uma tentativa de retratar a si mesmo e ao seu habitat de maneira verdadeira e sincera. Das belezas naturais às áreas ambientais ainda intocadas, “onde a mão do homem ainda não botou o pé”, como afirmou um dos entrevistados, ao cotidiano difícil dos trabalhadores do campo, os filmes mostraram um painel significativo da região, a partir da ótica dos jovens realizadores que faziam das cenas registradas um motivo de orgulho para as suas origens e o seu universo rural.

A linguagem audiovisual, por sua modernidade e poder de persuasão, mostra-se muito eficaz para a elaboração de novos imaginários e abre caminhos para vislumbrar futuros e entender melhor o presente. A reação da plateia a cada filme exibido demonstrava o prazer de estar presente naquele momento especial e uma sensação de desafio superado. Envolver-se com uma linguagem aparentemente distante de sua realidade aguçou naqueles jovens a percepção de serem partícipes do mundo contemporâneo e de poderem contribuir com suas impressões para uma melhor compreensão do mundo que os rodeia.

A simples possibilidade de se oferecer aos jovens, que habitam regiões distantes dos grandes centros urbanos, condições de se expressarem livremente e de se manifestarem através da arte resulta em processos novos de abordagem da realidade e de construção do futuro. O estímulo para comunicar os próprios sentimentos e os de sua comunidade desencadeia ações participativas solidárias e aponta para a consciência de outras formas de se construir o futuro.

Num dos filmes exibidos, que abordava o cultivo de orquídeas, constatamos que a flor de uma delas pode demorar até doze anos para desabrochar. Em meio às explicações de todo o trabalho e enxertos necessários até que isso aconteça, um dos entrevistados afirmou que seu sonho era imaginar a flor que ainda não se abriu. Uma bela metáfora de como imaginamos o futuro.

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