Juventude, consumo e direitos… E o desenvolvimento?

Dez anos de governos sérios e democráticos. Juventude progressista organizada com acesso ao Estado. Programas avançados (avançadíssimos) em matéria de ensino universitário. Acesso de amplas parcelas, historicamente excluídas, ao ensino superior. Agenda de direitos consolidada com ampla margem de luta a acúmulo por mais (justos) direitos.

Mercado de trabalho repleto de jovens com seu “primeiro emprego”. Mais acesso à informação e, principalmente, ao mercado consumidor. O Brasil não é o mesmo de dez anos atrás, melhorou de forma quantitativa e qualitativa. Ao mesmo tempo, nosso país não é o mesmo de 2009 para cá. Pode-se dizer que a juventude brasileira viveu um processo de inclusão impressionante desde o momento em que o presidente Lula inaugura seu modelo de impulso ao consumo em um histórico pronunciamento de rádio e TV em meio à crise financeira.

Porém, aprendi nos rudimentos de geografia e marxismo que o ser humano é parte da natureza. E a natureza é regida por leis. Logo a sociedade é, também, regida por leis de desenvolvimento e tem seus ciclos. Em outras palavras: tudo tem início, meio e fim. O “modelo” esgotou-se e nosso país encontra-se novamente encalacrado. E os primeiros a perceber isso são os jovens. E como perceberam!

Não me esqueço de que em julho de 2011 escrevi um artigo no Portal da Fundação Maurício Grabois (“A juventude como commodity”, acessível em: http://grabois.org.br/portal/noticia.php?id_sessao=8&id_noticia=6079) onde já expunha os “limites do modelo” para a juventude. Em grande medida polemizei com as chamadas Políticas Públicas para a Juventude (PPP`s), além de colocar o caráter liberal de determinadas bandeiras. Confesso que puxei demais a corda em alguns pontos. Mas no essencial mantenho o que escrevi naquela época.

Lembro-me do profundo mal-estar causado pelo artigo. Um ou outro quiseram trocar algumas ideias, outros pediram para que outros se manifestassem. Muitos torceram o nariz e, simplesmente, me ignoraram e partiram para o clássico expediente (fascista) da desqualificação (a acusação: “polêmico”) e o isolamento. Adjetivos sobraram, faltaram substantivos. Fui condenado pelo “domínio do fato”. Um amigo enviou-me um dado isolado de crescimento industrial que “contestava” a minha ideia de desindustrialização. Perguntei se ele sabia o que era utilização de capacidade ociosa e o debate se esvaziou. Estava lá Elias Jabbour remando pagando o preço por remar contra as modas e a maré!

E não é que a juventude foi à rua pedindo por mais? E não é verdade que amplas parcelas da juventude que tiveram acesso aos programas de ensino superior e qualificação profissional estão hoje a enfrentar o batente, depois de formados, no setor de serviços onde nada podem fazer com o conhecimento adquirido na universidade? E não é que boa parte desta juventude pode ser um dos coveiros da rica experiência de governos democráticos no brasileiro, enviesando por um discurso conservador e formando opinião dentro de seus círculos familiares?

Quando uma sociedade encontra-se no esgarçamento da contradição entre forças produtivas x relações de produção, é a juventude o primeiro segmento da sociedade a acusar o problema. Foi assim em 1968 e está sendo assim agora no Brasil. É a juventude quem sofre com a brutalidade da exploração em empregos de péssima qualidade. São os jovens (no caso brasileiro, sobretudo os negros) que sofrem o fascismo nosso de cada dia, entre tal a brutalidade policial.

O modelo pautado pelo consumo praticado nos últimos anos foi para o buraco, literalmente. E a manutenção dele poderá ocorrer sob o preço da regressão social. A taxa de juros voltou a subir. Fala-se em um chamado “bônus demográfico” de 51 milhões de jovens, uma janela de oportunidades para o país crescer. Porém, tem um problema aí: a taxa de investimentos com relação ao PIB que, há muito tempo, patina entre 17% e 18% quando o mínimo necessário para que as coisas andem bem seria de 25%.

Entre os 17% e os 25% existe uma fronteira entre o “bônus” e o “ônus”. Mantida a atual taxa de investimentos a perspectiva é de retrocesso social para a juventude, pois qualquer “modelo” de desenvolvimento deve ser precedido ou procedido por investimentos sob o preço de proscrição do próprio modelo. O futuro da juventude depende da mais radical e ampla “política pública para a juventude” possível: mais crescimento econômico não mais aferido, somente, pelo consumo das famílias e sim pelo aumento do investimento e respectiva criação de empregos de qualidade. Fora disso, é se resignar do modelo neoliberal e sermos vítimas, e retroalimentadores, da miséria em matéria de pensamento nacional estratégico que vive o nosso país.

A pauta do desenvolvimento é por demais séria para ser tão menosprezada. Tão pouco estudada e muito menos ser compreendida. Daí ela ser negada solenemente de forma sutil. Ou compreendemos isso ou continuaremos sendo cegos conduzindo cegos no rumo do abismo.

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