Livros para vestibulares – exclusão provinciana

A cúpula acadêmica das universidades goianas teima em ignorar a produção literária local. Estão aí as listas dos autores e livros indicados para o vestibular. Nenhum goiano. Minto. Há o Flávio Carneiro com seu livro de contos sobre futebol. Afinal, a terra é de carnaval, futebol e cachaça. 

Os mestres, doutores, e até pós-doutores de nossas universidades deveriam explicar por que o goiano tem tanta ojeriza de si mesmo. Isso poderia pelo menos justificar a posição olímpica, parisiense ou anglo-saxônica de seus currículos.

No último texto aqui no DM, deplorei a desmemória do goianiense. Vejo que isto não é defeito da gente comum. É cultivada pelas nossas elites políticas, administrativas e acadêmicas. Nenhuma preleção teórica pode justificar a exclusão de livros de autores goianos em um certame onde é aferida, pelo menos grosso modo, a bagagem cultural dos estudantes.

Têm razão, editores, comerciantes de livros e escritores, indignados com o preconceito. Não serve a explicação acadêmica de que o vestibular aborda as correntes modernistas e questões de estilo. A história literária brasileira ou goiana não conta apenas a partir de 1922.

Esta sociedade pecuária em processo de industrialização e modernização, sem dúvida, tem sua expressão, que reside no conjunto da produção nacional. Há muito, deixou de ser uma ilha.
Aliás, o sentimento insular permanece na cabeça de nossos dirigentes e acadêmicos.

Como entender, então, que o construtor da cidade não tenha, até hoje, um monumento em sua homenagem, enquanto se espetam nas praças e trincheiras urbanas acúleos de alumínio sem nome ou significado? São trambolhos urbanos de consumo, como aquelas palmeiras mumificadas que enfeitam os shopping centers.

O desprezo pelos autores regionais vai à contramão dos estudos modernos, desaprendidos pelos doutores universitários. Ignora-se a diversidade, as histórias excluídas, o vário, que nega a ordem estabelecida e positiva, em busca da surpresa das emergências.

Não cito nomes, para não cair no provincianismo de celebrar apenas por ser local. Mas entre a grande produção do século XX e a deste século, é possível encontrar textos que mereçam leitura, estudo e compreensão.

O vestibular é a única oportunidade que vai ter a maioria dos estudantes. Não aprenderam a ler em casa, nem na escola, e estão levando seu analfabetismo para a internete.

As listas de autores para nossos vestibulares sempre cultivaram a hegemonia desrespeitosa para com quem escreve em Goiás. Quando não são massivamente indicados autores de fora, escolhem nas vizinhanças das comissões de vestibulares. Não raro, autores indigestos, que assombram os novos leitores. Isso parece fazer parte do plano de aniquilar de vez os projetos de escritores e leitores da terra dos políticos inexpressivos e das boiadas gordas.

Agora mesmo, numa espécie de terremoto ou tsunami, a Secretaria Municipal de Cultura estará lançando 130 livros dos tais autores locais. Para as comissões de vestibular, que não são capazes de encontrar nenhum digno de participar de suas listas, a montanha de livros não deveria ser lançada num shopping, como está programado, mas num aterro sanitário. Ora, viva-se com um estrupício desses!

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