Lula Lá, na Palestina

Persiste na Palestina os impasses de sempre. Não há solução à vista para o conflito. Não bastasse o cerco em que vivem os bravos e aguerridos lutadores por uma Palestina Livre, encontram-se divididos entre si entre facções políticas que não se entendem. A

Convite de Abbas a Lula


 


 


No próximo dia 15 de novembro, quinta-feira que no Brasil é dia da República, ocorrerá nos Estados Unidos, na cidade de Annapolis, uma cúpula para discutir o conflito árabe-palestino. Convocada pelos Estados Unidos, devem dela participar o primeiro Ministro de Israel, o fracassado e impopular Ehud Olmert, bem como o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, que pertence ao grupo político Fatah, que tem liderança do movimento de libertação da Palestina há mais de 40 anos, mas perdeu as eleições populares para a Câmara dos Deputados.


 


 


 


Quem sugeriu o convite para que o presidente Lula participasse dessa cúpula foi o próprio presidente da AP, Mahmoud Abbas. A maioria das pessoas que acompanham os trabalho da chancelaria e dos diplomatas brasileiros sabem – e essas coisas são visíveis a olho nu – que a política externa brasileira é das melhores e mais progressistas de toda a nossa história. Sem fechar portas para nenhum país desenvolvido capitalista, estamos privilegiando novos mercados, os chamados emergentes e fortalecendo as relações Sul-Sul.


 


Em 2005 tive o privilégio de participar, a convite da presidência da República, da Cúpula convocada por Lula que reuniu todos os chefes de estado da América do Sul com os chefes de estado dos países árabes. Centenas de autoridades, embaixadores, políticos, técnicos e representantes de entidades em geral acorreram à Brasília nesse ano. Uma grande resolução foi emitida e os Estados Unidos que, à época, fizeram de tudo para que a Cúpula não ocorresse, acabaram tentando participar como observadores, mas isso também acabou sendo negado pelo fato de pertencerem à América do Norte.


 


 


 


O comércio do Brasil com os países árabes vem crescendo exponencialmente. Os percentuais de crescimento superam o crescimento da balança comercial do país como um todo. Para termos uma idéia disso, o crescimento entre 2005 e 2006, já consolidado, superou a marca de 28%, ante a um crescimento de apenas 16% para o restante dos outros países no mundo. Em 2006 o Brasil exportou par os 22 países árabes U$6,672 bilhões de dólares, ante uma importação de U$5,369 bilhões. As estimativas é de que até o final do governo Lula em 2010, vamos atingir a marca e até superá-la, da ordem de U$10 bilhões de dólares. O saldo é positivo na ordem de um bilhão de dólares e vai crescer mais.


 


 


 


A chancelaria brasileira ainda não confirmou se o presidente Lula vai mesmo participar. Eu arrisco dizer que talvez o faça, pois isso ampliaria em muito a posição do Brasil no cenário internacional, como um dos “atores” nesse complexo tabuleiro de xadrez. De nossa parte, apoiamos essa participação, pois isso coloca nas negociações uma pessoa que já demonstrou, na forma de atitudes, declarações e ações concretas, a solidariedade do Brasil ao povo palestino.


 


 


 


Sobre a Cúpula em si


 


 


A imprensa não tem dado ainda destaque sobre a forma como ocorrerá essa esperada Cúpula de Paz. Talvez por que faltem ainda mais de 30 dias para a mesma. O que pudemos saber, é que dela farão parte representantes da Liga dos Estados Árabes, uma espécie de organização representativa dos 22 países árabes. Foram ainda convidados a Síria, o Líbano, a Arábia Saudita, o Qatar, a Jordânia e o Egito. Em sua maioria, esses países fazem o jogo dos Estados Unidos ou possuem governos árabes moderados. Praticamente todos mantém relações diplomáticas e reconhecem Israel.


 


 


Há vários anos não se discute uma proposta concreta de paz para a Palestina. Nesta semana o presidente palestino voltou a defender a concessão de terras para a obtenção da paz. Há um consenso claro entre todas as correntes palestinas, que atuam na luta de libertação desse povo, sobre qual é a proposta mínima que se poderia aceitar para celebrar um acordo de paz.


 


 


Muitos chamam essas propostas de “linha vermelha”, que não podem ser cruzadas por nenhum dirigente palestino nas negociações. Estas propostas centrais dizem respeito às fronteiras e a área do futuro estado Palestino. Defende-se o retorno às fronteiras de 1967, antes da Guerra dos Seis Dias, quando toda a Cisjordânia foi ocupada por Israel. De lá para cá, muitas áreas foram devolvidas, mas os palestinos não tem autonomia nessa região, onde estão mais de 250 mil colonos judeus assentados em mais de duas centenas de assentamentos, cuja segurança é feita de forma privada por judeus ortodoxos e radicalizados, armados até os dentes e pelo próprio exército de Israel.


 


 


Um segundo aspecto que não se pode ultrapassar é o da capital do futuro estado Palestino. Deve ficar na região Oriental de Jerusalém, a região árabe dessa antiga cidade que é sagrada para três religiões monoteístas. Por fim, tem a questão dos refugiados, que são estimados em quase quatro milhões, que deixaram as terras seja em 1948 ou 1967. quando da criação do Estado de Israel e sua proclamação em 14 de maio de 1948, foi editada uma Lei, chamada de Lei do retorno, ou seja, todo judeu em qualquer parte do mundo teria direito automático ao retorno à sua terra e sua pátria e assim que desembarcasse em solo israelense, receberia imediatamente a cidadania de Israel. Porque os palestinos não teriam direito a isso. Por fim, claro que tem a reivindicação dos presos políticos, estimados em mais de dez mil, mas isso poderia ser negociado a libertação.


 


 


Reunião unilateral


 


 


O mundo foi surpreendido com a convocação pelos Estados Unidos, dessa reunião de cúpula. O que vai ocorrer nos EUA não é uma Conferência Internacional de Paz. É uma reunião chamada, convocada, decidida única e exclusivamente por George Bush. Ele é quem escolherá quem serão os convidados. É claro que os principais convidados serão Israel e os Palestinos da ANP.


 


 


Mas, os palestinos, muito sabidamente, tem circulado em vários países, pedindo que vários governos e países sejam chamados por Bush, para dar mais amplitude à reunião. Nesse contexto é que se insere a sugestão de que Lula seja convidado. A Índia foi lembrada, assim como a Tailândia, Indonésia entre outros.


 


 


Apesar de ser uma reunião unilateral, decidida sem o consenso internacional e não ser patrocinada pela ONU, ainda que esta faça parte da mesma, Bush joga uma cartada decisiva nisso. Quer mostra, apesar de seu completo isolamento, que ainda pode tomar iniciativas, e apesar do desastre que vem sendo a ocupação no Iraque. É na verdade uma jogada de marketing, para melhor a imagem e a popularidade dos americanos, que está profundamente abalado e desgastada, especialmente seu presidente.


 


 


Não vejo nenhuma proposta nova a ser apresentada. Poderá se falar num estado Palestino com autonomia relativa, pequena, restrita, limitadíssima, em território menor do que os 22% reivindicado (em torno de 6 mil quilômetros quadrados), mas sem o desmantelamento dos assentamentos. Não creio que a capital será toda a parte Oriental de Jerusalém, pois devem ficar com a Esplanada das Mesquitas, onde esta o Domo da Rocha, a Mesquita de Al Aksa (onde Maomé teria se elevado aos céus uma vez).


 


 


De minha parte, acompanho com serenidade esses acontecimentos. Espero sinceramente que se nosso presidente Lula for convidado, aceite participar para reforçar o lado dos mais fracos, dos palestinos. Mas, sigo sendo pessimista nesse caso e não vejo com confiança uma real possibilidade de paz na região. Não enquanto perdurar as nossas dificuldades e essa correlação de forças que nos é profundamente adversa na conjuntura política internacional. Voltaremos ao assunto.

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