Mário: da academia à democracia.

No fim do ano 2000 recebi uma tarefa da direção do PCdoB de São Paulo, tão trabalhosa quanto gratificante e prazerosa. Afinal, me foi dada a função de articular a comunidade esportiva paulistana em torno de um programa avançado e inclusivo de Esporte que seria oferecido a então prefeita eleita Marta Suplicy.

Os esforços foram grandes, mas a alegria da possibilidade de reencontrar amigos do seguimento e de fazer outros, se confundia com a honra de tornar-nos parceiros de ídolos que aplaudíamos com entusiasmo.

Eu, Suely Scutti, competente jornalista e militante desta que não esconde posição, formamos um time ao qual logo depois foi incorporado Orlando Silva à época presidente da UJS. Com as ideias na cabeça e contatos na mão fomos construindo relações com os vários lideres do seguimento da cidade. Sócrates, Wladimir,Basílio, Gilberto Sorriso,Ana Moser, Magic Paula, Pampa, Domingos Maracanã, Flávio Prado, José Trajano,Juca Kfouri, Juarez Soares, Figueira Junior, Olívio Pita e tantos outros, muitos outros. O resultado foi exitoso. Conquistamos a cobiçada Secretária de Esporte do município para a qual foi indicada Nádia Campeão que hoje é vice-Prefeita da cidade paulistana.

O saldo foi amplamente positivo do ponto de vista político e programático. Introduzimos uma forma de trabalhar o esporte, nunca tentada antes. A ação tinha como foco a massificação da prática esportiva e a democratização do acesso a equipamentos que tinham como vetor a melhoria de qualidade de vida e o envolvimento desta prática enquanto política pública de inclusão social. Mas, além disso, o processo de articulação produziu a aproximação de pessoas e personalidades que se tornaram meus amigos pessoais. Entre elas, eu destaco o Treinador, técnico de futebol, Mário Travaglini.

O conheci com sua voz mansa e pausada, enquanto ele fazia parte da Diretoria do Sindicato dos Treinadores de Futebol de São Paulo. Entidade que depois assumiria a Presidência. Homem integro e de ideias claras não tinha subterfúgios nas divergências que expunha sempre da mesma maneira, com o mesmo método. Nos aproximamos e ele sempre aceitando meus convites e apelos participou de campanhas, eventos, atividades políticas e/ou politizadas fossem em um domingo pela manha ou quinta a noite, por exemplo. Numas de nossas conversas perguntei sobre sua história e ao ouvir uns 30 minutos, sugeri: Faça um livro! Não é possível que história tão rica, limite-se apenas a oralidade do personagem principal.

Ainda bem que ele aceitou e produziu através dos textos dos experientes jornalistas Márcio Trevisan e Hélvio Borelli, um livro que é desses pra se ler várias vezes afinal sua história contada desde os tempos de menino ali no bairro paulistano do Bom Retiro e depois as peladas na futebolística Barra Funda, bairro da mesma cidade que era o centro do futebol varzeano a época. Mostra como ascendeu ao futebol jogando inicialmente pelo Clube Atlético Ypiranga e depois pelo Palmeiras, Nacional e Portuguesa. Assim como começou como treinador de base do time do Parque Antártica, onde ao lado do amigo de infância Rubens Minelli iniciaria uma trajetória vitoriosíssima. O economista Mário, formado pela PUC-SP, foi o único treinador de Futebol paulista a ter sucesso no Rio onde foi campeão nacional pelo Vasco em 1974, posição que foi emparelhada pelo Muricy em 2011 com o “entapetado” Fluminense.

Mas não foi só isso treinou o Palmeiras, Fluminense, Portuguesa, Sport Recife, Vitória, Bahia, São Paulo e foi o treinador da Democracia Corinthiana, e não poderia ser outro, afinal, como treinar aquele time de feras politizadas, com Casagrande, Sócrates e Wladimir a frente sem ser diferente? Só ele poderia, em minha opinião. O que muita gente não sabe é que o Mário já tinha tido uma experiência como a que viveu com os corinthianos no Palmeiras de 1966, onde ele dividiu o comando técnico do alvi verde com Djalma Santos, Waldemar Carabina e Julinho Botelho. Ainda foi supervisor de Futebol do Palmeiras e Gerente de Futebol do alvi negro do parque São Jorge. Sendo um dos poucos que ganharam títulos e respeito dos dois rivais paulistano. Também foi Coordenador Técnico da Seleção brasileira na Copa de 1978 na Argentina quando o treinador era o Capitão Claudio Coutinho.

Mário Travaglini, foi com técnico um grande estrategista. Nas palavras de Rubens Minelli. “ Não daqueles que com táticas mirabolantes transformam a conduta de uma equipe durante uma partida, nem daqueles que às vésperas de um grande jogo escondem a escalação até a hora de entrar em campo, surpreendendo o adversário com um time totalmente diverso. A estratégia de Mário sempre foi diferente: Usava a tática da persuasão, transformava um bando em um grupo e sempre conseguia, de braços abertos, o máximo de rendimento até mesmo de jogadores de condições técnicas duvidosas”.

Hoje quando somos surpreendidos com a notícia de sua morte. Eu que fui seu amigo, registro as palavras finais de Minelli e assino em baixo afinal acreditamos “ …que o Mário foi eternamente grato ao futebol, que tantos momentos de glória, satisfação e alegria lhe proporcionou. Mas cremos também, que se o futebol tivesse condições de externar seus sentimentos, certamente diria: Obrigado Mário Travaglini”

Obs. na Foto: Mário, Eu e o Jogador de Futebol do Atlético Mineiro Pierre.

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