Movimento negro: Um Passo além da Proposta

Com o tema Movimento negro: Um passo além da proposta a Unegro – União de Negros Pela Igualdade realizou com grande êxito seu 3º Congresso Nacional nos dias 14, 15, 16 e 17 de junho no Rio de Janeiro.

Um passo além da proposta nasce da compreensão que a luta contra o racismo no Brasil, apesar de alguns avanços, está num estágio de contaminação retórica, ou seja, muitas propostas consensuadas no campo da saúde, educação, terra; muitos debates realizados nos parlamentos, nas academias, partidos, sindicatos, mídias; várias iniciativas dos executivos, especialmente com a implantação de secretarias, coordenadorias, assessorias; muitas denúncias e baixa resolutividade. Objetivamente, a força política do movimento negro não impôs a concretização das políticas de ação afirmativa e a universalização das políticas sociais na medida das demandas e das reivindicações que, unitariamente, tem defendido.


 


 


Um passo além da proposta tem como significado a superação da fase retórica através de medidas que permitam a efetividade das propostas do movimento negro. Se preparando para esse passo a Unegro ousou em realizar o maior congresso de sua história. Mobilizou cerca de cinco mil delegados e delegadas na base e recebeu quinhentos nos dias do congresso, esteve presente delegações de vinte e um estados, três justificaram suas ausências, sendo assim, demonstramos presença em vinte e quatro estados. Nesse processo agregamos todos os segmentos que compõe o movimento negro brasileiro: quilombolas, mulheres negras, juventude, religiosos de matriz africana e evangélicos, GLBT, agente culturais e militantes que estão ocupando cargos na gestão pública. Fato inédito para uma organização do movimento negro e prova de que estamos no caminho certo. Crescimento e unidade sintetizam a conquista imediata do 3º Congresso Nacional da Unegro.


 


  



O 3º Congresso Nacional da Unegro aprovou a tese de que somos um povo único, moldado por uma experiência histórica singular, pelo encontro de diversas culturas, principalmente de matrizes africanas, européias e indígenas, pela miscigenação presente nas entranhas brasileira. No entanto essa unidade não evitou a existência do racismo e das clivagens sociais oriundas dele; não evitou a profunda desigualdade econômica entre negros e brancos; não evitou a cultura de violência – a qual vemos forte presença do Estado – que atinge nossa juventude. Essas iniquidades “naturalizadas” no Brasil serão combatidas com eficácia somente com uma ampla aliança dos oprimidos com as forças progressistas nacionais para por fim no atual sistema sócio-econômico, nessa aliança o movimento negro tem um papel fundamental, na medida que o racismo é um elemento sociológico utilizado para dominação política, econômica, social, cultural, sua superação é fundamental para a derrota do capitalismo no Brasil.


 


  


Reconhecemos que a ascensão de Lula ao poder permitiu um novo e positivo olhar do governo brasileiro para as questões relacionadas a luta do movimento negro. A prioridade dada ao combate a fome (orientação da 3ª Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerâncias Correlatas, organizada pela ONU) é uma forma de combater uma das maiores perversidade que o racismo produz: marginalização das massas não brancas do processo de produção e consumo da riqueza nacional, agravando a pobreza que o capitalismo naturalmente impõe. Lula instituiu a SEPPIR, sancionou a Lei 10.639, implantou o Pro-Une, restabeleceu as relações diplomáticas com países do continente africano, ascendeu negras e negros ao primeiro escalão do governo e da magistratura. Apesar desse movimentos positivo houve timidez na implantação as cotas, na aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, dentre outras propostas do movimento negro.


 


  


A força desse congresso aumentará o protagonismo e a responsabilidade da Unegro no movimento negro e na sociedade brasileira, por isso, além da luta contra o racismo, reafirmamos nosso compromisso com a luta de classe e com a superação do machismo, princípios que sempre defendemos no movimento negro. Continuaremos buscando a unidade na luta contra o racismo, assumiremos bandeiras de interesse do Brasil e dos brasileiros e levaremos ao movimento negro essa compreensão. Acreditamos que daremos um passo além da proposta quando o movimento negro brasileiro contaminar a agenda nacional com um olhar anti-racista, sair do isolamento político, massificar suas ações, assumir uma leitura mais precisa da sociedade brasileira, elaborar um programa justo, estabelecer alianças com forças vivas e progressistas.

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