O fracasso de Condoleeza na Palestina

Nas últimas duas semanas, o mundo presenciou um esforço inédito da Arábia Saudita, na tentativa de conseguir um acordo político possível entre as duas principais forças que lutam pela libertação da Palestina. A família real de Ibn Saud, que é guardiã dos

Lá estavam presentes Khaleed Meshal e Ismail Haniyeh, os maiores líderes do Hamas e Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestina – ANP. Ao que tudo indica, conforme noticiou amplamente a imprensa, uma espécie de “cessar fogo” entre as várias facções palestinas foi estabelecida. Um novo governo será formado, com a participação do Fatah e não mais apenas do Hamas, que venceu as eleições em janeiro de 2006.


 


As discussões em curso


 


Desde que venceu as eleições de janeiro do ano passado, com mais de 55% dos votos válidos, o grupo político Hamas, até que fez esforços para não formar sozinho o novo gabinete do governo palestino. No entanto, o Fatah, que administrava a ANP desde os acordos de Oslo de 1993, decidiu não participar da coalizão. Isso porque o Hamas insiste, em seu programa, em não reconhecer a existência do Estado de Israel.


 


 
A partir da instalação do novo governo, um boicote – liderado pelos EUA – foi formado contra o novo governo. Isso afetou não só o governo em si e a administração dos territórios ocupados, mas toda a população palestina que já vivia em imensas dificuldades impostas pela política israelense de discriminação. Verbas humanitárias que vinham de vários países europeus e mesmo dos Estados Unidos foram cortadas ou diminuídas drasticamente. Fizemos nossa crítica neste espaço a essa política discriminatória. A ajuda não era bem para os palestinos, mas para grupos políticos que aplicavam políticas que interessava a quem desembolsava o dinheiro. Ou dito de outra forma, só se ajuda se os vencedores das eleições for quem eu gosto, caso contrário, corto os recursos. Assim age o império, que diz que defende a democracia.


 


 
A situação se deteriorou. Salários de funcionários palestinos estão atrasados e apenas alguma ajuda tem vindo do Irã e da Síria, países que apóiam firmemente a causa palestina, já que o Iraque, grande apoiador no passado, encontra-se ocupado pelo mesmo império que corta as verbas, estabelece boicotes econômicos a povos e países com quem não concorda.


 


 
O debate posto no momento, para que os Estados Unidos venham a reconhecer o novo governo palestino, que será formado a partir da coalizão entre Hamas e o Fatah, vem sendo colocado a partir da exigência de três condições básicas: 1. Que o novo governo renuncie a todas as formas de violência; 2. Que se comprometa com todos os acordos de paz assinados no passado e 3. Que o Estado de Israel seja reconhecido. O grupo Hamas não aceita nenhuma dessas condições e mesmo o Fatah, que reconhece o Estado de Israel há anos, tem dificuldades em negar o direito do uso da resistência e da violência na luta pela libertação. Assim, chega-se a um impasse.


 


 
A situação é surreal, pois os Estados Unidos que se dizem paladinos da democracia, só reconhecem um novo governo palestino se estes aceitarem as suas condições.um verdadeiro absurdo, pois é uma completa ingerência de um país sobre os destinos de outro povo.


 



Nesse cenário, Condoleeza Rice se porta como o cão de guarda do sistema imperial. Vocifera e dita regras e normas, faz ameaças como se fosse a senhora do mundo e que todos lhe devam obediência. Bebeu do maior fracasso nessa reunião de cúpula do último dia 19 de fevereiro, onde nem sequer um comunicado conjunto e um pronunciamento coletivo dos três líderes chegou a ser feito. Essa senhora da diplomacia dos fuzis disse que nenhum dinheiro de contribuinte americano seria destinado aos palestinos se as coisas não seguissem os rumos que ela determinava. Uma verdadeira arrogância. Pobres contribuintes americanos.


 



Origem das Exigências e Perspectivas


 


Essas exigências não são novas. Elas vêm sendo formuladas por um grupo denominado de Quarteto, composto pelos Estados Unidos, pela União Européia, pela Rússia e pela ONU. O plano de paz, formulado há três anos nunca foi sequer implementado, por absoluta intransigência de Israel. É verdade que ele não reconheceria de imediato o Estado palestino, mas era uma proposta válida, que ficou conhecido como o Mapa do Caminho. São esses países e instituições que formulam essa exigência, mas elas são defendidas com firmeza mesmo pelos Estados Unidos e reverberadas por Israel.


 


 
O primeiro Ministro Olmert chegou a dizer ao seu gabinete que ele havia exigido na negociação com Mahmoud Abbas que os dois solados palestinos fossem devolvidos, pois eles foram seqüestrados em junho do ano passado por milicianos da resistência palestina e que havia feito a exigência que os ataques ao território israelense fossem interrompidos a partir da Faixa de Gaza. Nada disso também foi acertado. Assim, o impasse segue nas conversações. O máximo que se conseguiu foi que uma nova reunião ocorreria em breve. Como se diz em linguagem popular, quando não se quer resolver alguma coisa, marca-se uma nova reunião ou cria-se um grupo de trabalho. é assim que funciona a diplomacia.


 


 
Nas próximas duas semanas, no máximo, o presidente Abbas deve confirmar Ismail Haniyeh no comando do governo palestino. Só que desta feita, o governo deverá contemplar amplas forças, especialmente o grupo Fatah. Esperamos de nossa parte que seja um governo que represente os mais legítimos anseios e interesses dos palestinos e que tenha a firmeza e a capacidade de conduzir a luta desse sofrido povo na busca de seus direitos inalienáveis e no rumo da construção do novo estado. Tal governo enfrentará pressões de todas as ordens e o boicote, capitaneado pelos EUA continuará. Esse país não vai reconhecer qualquer governo palestino, mesmo que de consenso entre todas as forças, se nesse governo estiver presente o Hamas, que não reconhece Israel. Lamentamos isso, pois com posturas como essa é que a paz nunca será conseguida na Palestina.

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