O império contra-ataca

 Dois fatos marcaram o Oriente Médio nos últimos 10 dez dias. O ataque assassino de Israel à flotilha da Liberdade que levava suprimentos para os palestinos na Faixa de Gaza, no dia 31 de maio e a decisão do Conselho de Segurança da ONU de impor uma quarta rodada de sanções ao Irã, adotada no último dia 9 de junho. Ambos os episódios guardam profundas relações. Comento esses episódios.


O caráter agressivo do imperialismo norteamericano

Não é de hoje que diversas organizações sindicais e partidos, em especial o PCdoB, vêm dizendo que é da natureza do imperialismo o seu caráter agressivo. Eles nunca buscaram a paz. Ao contrário. Fomentam a guerra, sejam elas preventivas ou de conquista. Defendem os interesses econômicos das suas empresas e seu modo de vida e sua ideologia do chamado “livre mercado”, capitalismo neoliberal.

O CS/ONU votou por 12 votos a dois, com uma abstenção, uma nova rodada de sanções ao Irã. O objetivo proposto, segundo argumentam os EUA, é exigir que o Irã cesse completamente o seu programa nuclear. Não vou aqui entrar no mérito das sanções em si, ineficazes e inócuos, moderadas conforme queriam os chineses e russos, que votaram a seu favor.

O mais importante é tentar, mais uma vez, entender o porquê as potências nucleares como china e Rússia, em tese amigas do Irã, dobraram-se aos ditames do gendarme planetário, representado hoje na figura do cada dia mais desgastado Barak Obama (vai sendo esvaziado e pode acabar como Carter acabou, medíocre e sem se reeleger, dando lugar às forças de extrema direita).

No dia imediato ao acordo que Lula e Erdogan assinaram com Ahmadinejad, em 17 de maio, Hilary Clinton chamou uma coletiva de imprensa. Criticou o acordo da Turquia e Brasil com o país persa. Apresentou um rascunho de novas sanções. Assinados pelos cinco membro do CS/ONU. O mundo, que havia saudado o acordo, fica estupefato com a agressividade dos americanos. Desse dia em diante, passaram-se apenas 23 dias. Mudou a presidência do CS, passando das mãos libanesas para mãos mexicanas, tradicionais aliados dos americanos. O rolo compressor havia sido acionado.

Nesse interregno, em 31 de maio, o mundo foi pego, mais uma vez, de surpresa, com o assassinato por parte de Israel, de nove ativistas da flotilha humanitária de seis navios que levava alimentos, remédios e suprimentos para os palestinos sitiados em Gaza (por uma diferença de 24 horas acabei não conseguindo aceitar o convite para participar desse movimento internacional). Israel ataca, como se piratas fossem, esses seis navios, em águas internacionais, há mais de 160 quilômetros da costa palestina, tomando-os de assalto, prendendo todos os seus 750 passageiros de 45 nacionalidades. Toma os navios e mata esses nove ativistas, entre eles um norteamericano. O mundo inteiro condena a atitude. Barak, a efígie estadunidense se cala. Nenhuma frase de condenação aos ataques assassinos. No máximo, um “lamento pelas mortes”. Até a Europa e Inglaterra condenaram o massacre. Menos os EUA.

Isso por si só é uma poderosa mostra da força e do poder de Israel. No mundo, no governo americano, nas finanças internacionais e na mídia. Mesma esta última, as manchetes foram na linha da condenação, da indignação. Mas, isso durou poucos dias. Logo as coisas voltaram ao seu “curso normal”. Editoriais e “análises” começaram a aparecer, voltando ao velho mantra sagrado de que “Israel tem todo o direito de se defender” e passaram a justificar a ação assassina e criminosa. Como já dissemos no passado, em artigo neste espaço, Israel vai se colocando como um “estado bandido” ou “estado pária”, ficando á margem da comunidade internacional e do direito internacional. Vai se isolando cada vez mais. Vai perdendo a sua legitimidade até perante os setores que sempre lhes deram suporte. Como disse Avnery, grande escritor e ativista israelense que defende a paz e os palestinos, em artigo recente: “Aleluia, o mundo inteiro nos odeia [a Israel]!”. E é a pura verdade.

Correlação de forças

Tanto China quanto a Rússia têm interesses imperiais e planetários. Sejam eles de dominação política e cultural, sejam eles de natureza econômica. Mas, vão mais além. São do seleto grupo de países nucleares, que detém a bomba (o Brasil busca o domínio completo do enriquecimento do urânio, mas não busca a bomba, tal qual o Irã, que tem programa semelhante ao nosso). Nesse sentido, China e Rússia, ainda que amigos e próximos do Irã, também têm interesse em barrar o domínio iraniano ao ciclo nuclear.

Mas, vejo outros interesses na decisão equivocada e injusta tomada pelo CS/ONU. Ambas as potências asiáticas não têm interesses em “peitar” os Estados Unidos neste momento. Não irão para o confronto, ainda que isso lhes possa causar certo desgaste. Amenizaram ao máximo o texto da resolução, quase completamente ineficaz. Seguem prestando ajuda e comercializando intensamente com o Irã. A Rússia inclusive segue construindo um grande reator nuclear em Natanz. Não é de todo equivocado afirmar que ambos os países tem seus projetos imperialistas em suas regiões.

A correlação de forças na atualidade ainda nos é francamente desfavorável. Ainda que registremos diversos avanços, em especial na América Latina, o império norteamericano segue forte. As imensas dificuldades do Euro se consolidar como moeda alternativa ao dólar, só reforçam a primazia dessa moeda sobre as demais no mundo. Não é pouca coisa a China ter voltado a comprar títulos do tesouro e já deter quase um trilhão de dólares nesses títulos.

Por fim, não poderia deixar de dizer do desgaste da própria ONU e de seu CS. É urgente a sua reforma. Como bem disse Lula, uma vitória de “Pirro”, sem eficácia. Como se fosse imprescindível para os Estados Unidos obter mais essa decisão. O custo a pagar pode ser elevado.

Concluo este artigo com algumas passagens das decisões do 12º Congresso do PCdoB e afirmo: não nos parecem proféticas essas conclusões?

“Não há sinal algum de que os EUA estejam dispostos a ceder qualquer fatia de poder para nações emergentes que lutam pela soberania e progresso social”; “É uma ilusão achar que o mundo vai transitar espontaneamente entre o poder unipolar para a multipolaridade apenas porque Obama virou presidente; as coisas vão em outra direção”; “O Imperialismo sempre tendeu para a reação e a guerra; a paz nunca foi a sua vocação”; “A correlação de forças no mundo ainda nos é estrategicamente desfavorável do ponto de vista do amadurecimento das condições objetivas e subjetivas das lutas pela emancipação nacional e social, da superação revolucionária do capitalismo, da construção de uma nova sociedade, do triunfo da civilização e da libertação da humanidade da barbárie”.

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