O negro e a cultura afro-americana, o Jazz

A cultura afro- americana em “A voz Suprema do Blues” e o cinema de Alice Diop no curta “RER B”

O filme se chama “A voz suprema do blues” e está sendo exibido na Netflix. Eu coloquei neste texto o título acima justamente para destacar o que a produção realmente desejou, que não foi contar simplesmente a história da cantora Ma Rainey, mas levantar questões e contribuir para o conhecimento da cultura negra afro-americana. Eu já havia assistido a esse filme antes, mas o volume total dos diálogos me impediu de entendê-lo. A verdade é que a gente é sempre um novo crítico, e por mais velho que esteja, por exemplo, no meu caso foi o fato de ter estudado e estar estudando o inglês. É fundamental conhecer a língua do país, para então melhor se localizar com o que estamos lidando.

A equipe técnico-artística desse filme não me é muito conhecida, e a pessoa talvez famosa seja o produtor Denzel Washington, sendo ele provavelmente o principal mentor de todo o debate que temos em torno do que é a cultura afro-americana. E além do filme mesmo, que tem duração de 1h34min, eles apresentam uma documentação em torno do que é o povo afro-americano e sua maneira de pensar. Vários integrantes do elenco comentam como se colocam no contexto dessa cultura.

A estrutura de “A voz suprema do blues”, do ponto de vista do cinema, é muito simples, mas muito correta, inclusive para o nível norte-americano. Porém é enquanto representação de vida que o filme vai ganhando importância. Eu hoje me sinto até mesmo envergonhado por não ter aprendido o inglês antes e assim não sei como era cronista de cinema sem saber inglês. Agora estou procurando cobrir essa deficiência.

A bluseira Ma Rainey viveu nos anos 20 do século passado, teve grande importância para a formação da cultura do blue, e assim é um excelente esteio como elemento de explicitação do que o filme quer. Também a atriz-cantora Viola Davis cumpriu muito bem seu papel de a representar. O diretor-roteirista George C. Wolfe soube conduzir com clareza toda a trama, e assim dividir o tempo entre apresentações musicais e os muitos momentos vividos pelos intérpretes dos músicos. Temos uns quinze por cento do filme em torno de Ma Rainey, e no mais temos diálogos e questões colocadas pelos músicos. Mas não só questões de instrumentistas, e sim o mais fundamental que é viver como naqueles anos de um século atrás, que estava começando a se formar como povo específico. Sabemos que o negro nos Estados Unidos conseguiu criar a sua própria cultura sem se preocupar, ou melhor, fugindo a um acordo com os brancos. Que realmente escolheram o mando. No Brasil, a luta foi diferente e certamente o sociólogo-antropólogo Gilberto Freyre analisou muito bem essa questão.

“A voz suprema do blues” é uma excelente programação na Netflix.

Olinda, 01.07. 22

Alice Diop, a cineasta francesa

Cienasta Alice Diop | Foto: Divulgação

Dessa vez, mais do que um filme descobri uma cineasta. A francesa Alice Diop. Isso através da plataforma Mubi, que está apresentando o pequeno curta-metragem “RER B” de 1 minuto, que ganhou o César de Melhor curta-metragem. E assim o cinema do século XXI se afirma sem distinção de nação, na verdade. Alice Diop faz um cinema que está dentro desse novo impulso pelo qual se apresenta o cinema. Refletir o pensamento humano independente da duração do filme. Assim temos um programa da Mubi que dura um minuto, mas a partir do que você vê e é instigado para procurar ver mais.

“RER B” é um filme de uma cena de 1 minuto. O espectador vê um trem ‘rer’ seguindo em toda velocidade, e enquanto isso a mão do artista plástico Benoît Peyrucq escrevendo uma mensagem no para-brisa do trem, com a final sendo a câmera deslizando pelos trilhos. Independentemente do que diz a mensagem expressa, a verdadeira significação vem da imagem, que através dela cria o significado da mensagem. Não é realmente em francês e sim na linguagem da arte.

A partir desse pequeno filme “RER B”, o espectador é atraído para saber quem é Alice Diop, e assim irá encontrar entrevistas e outros filmes no YouTube. Tem inclusive uma entrevista de mais de uma hora. Assim, a cineasta faz minutos diminutos na duração, mas tem longa teoria acerca deles. É sempre um cinema pensado.

Coloquei no título deste texto “uma cineasta francesa”, mas o que o espectador se depara é com uma artista de origem africana, com uma visão universal, fazendo filmes que não se prendem a um grupo étnico. Não é negro em si. É humano. Arte universal.

Queria também lembrar como é importante termos essas plataformas de exibição de filmes, e de entrevistas também, pois quando não havia internet sem dúvida tudo isso era inteiramente inexistente. Em si, isso pode não significar nada, pois o ‘grande público’ não gosta de ‘decifrar’ os meandros da Arte, mas procurar criações já ‘traduzidas’. Mesmo assim, podemos usar esse instrumental para que tiver a ‘cabeça aberta’. Desse modo, tanto faz um filme de 7 horas quanto uma obra de 7 segundos.

Olinda, 13. 07. 22

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