O principal suspeito de um crime é o seu beneficiário

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Sempre que há dúvidas de quem é o executor ou o autor intelectual de uma determinada ação, qualquer aprendiz de investigador arrola como principal suspeito o beneficiário direto daquele ato.

Diante da morte misteriosa de um dos membros de um casal, por exemplo, o principal suspeito será sempre a viúva ou o viúvo, especialmente se há, digamos, um polpudo seguro de vida em nome daquele que ficou vivo.

No caso da “facada de Bolsonaro” não há dúvidas quanto a quem executou o ato, na medida em que o autor, Adélio Bispo – com problemas mentais – foi preso em flagrante e nunca negou a autoria da ação. Mas, também, qualquer investigação, por mais simplória que seja, jamais deixaria de averiguar se haveria outros envolvidos e, principalmente, se haveria um autor intelectual a manipular o executor visível. É uma cautela primária e absolutamente normal, que foi rigorosamente cumprida pela polícia para, enfim, concluir que se tratou de um ato solitário.

Mas a polícia não deveria ter concluído sem questionar e responder a outra pergunta elementar: Quem foi o principal beneficiário do ato?

Parece não restar dúvidas de que o principal beneficiário daquela fatídica facada foi exatamente Jair Bolsonaro, então candidato à presidência da República que obteve os seguintes benefícios direto:

1. Se vitimizou – e todos sabem o quanto o povo tende a se solidarizar com “vítimas”, reais ou fabricadas – e, além disso, conseguiu levantar suspeitas contra os seus adversários, notadamente contra o concorrente real, a chapa Haddad & Manuela.

2. Sumiu dos debates, onde não apenas seria trucidado pelos adversários em decorrência de suas reconhecidas limitações intelectuais como, também, teria que expor abertamente suas ideias obtusas e, certamente, uma parcela considerável de eleitores, por mais refratários que fossem ao PT, teriam adotado outro tipo de voto.

3. Conseguiu, a partir da facada, simplificar a sua tática no “nós contra eles”, dicotomia que lhe era extremamente vantajosa para aquele cenário.

Mas teria Bolsonaro, diretamente, armado aquela cena?

Não creio, mas não elimino a hipótese de que os agentes que operavam a sua campanha possam ter idealizado tal ação, assim como fizeram numa obra de ficção, Distrito Selvagem, ambientada na Colômbia, onde a candidata a presidente – uma preposta do Ministério Público Colombiano e da CIA (quanta coincidência) – é atingida, em órgão não vital, por um atirador de elite especialmente recrutado para esse fim.

Se há alguém, portanto, que deveria estar preocupado com o aprofundamento dessas investigações é precisamente Bolsonaro, inegavelmente o único beneficiado daquela “facada”. Alguns detalhes jamais ficariam à margem de uma investigação criteriosa e isenta. Como se sabe, o “agressor”, embora detido no ato, não sofreu qualquer tipo de sevícia, mesmo estando cercado de apoiadores reconhecidamente truculentos do então candidato Bolsonaro. Levar uma pessoa com desequilíbrio mental a acreditar que estaria praticando um ato magnânimo, não é exatamente uma tarefa tão complexa, especialmente para um interlocutor habilidoso, o que acrescenta evidências e reforça o “enredo” da teoria da conspiração.

O vídeo da “reunião” ministerial amplia a suspeita

Ademais, quem assistiu ao vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, além de ter ficado impactado com o nível de reacionarismo ali destilado, com o desequilíbrio emocional de boa parte de seus integrantes e, principalmente, com o flagrante despreparo daqueles personagens para comandar um país da complexidade do Brasil, certamente também ficou com a clara percepção de que aquele grupo está disposto a fazer “qualquer coisa” para se manter nos cargos e no governo. Eles não têm limites!

De nossa parte, de todos que tem compromisso com uma nação soberana, desenvolvida, democrática e plural, é preciso erguer urgentemente o muro de contenção contra o obscurantismo e a manifesta disposição golpista – nos moldes tradicionais das quarteladas – que anima aquele grupo de celerados.

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