Palestina: foco permanente de conflito

Parece uma semana como outra qualquer na Palestina: mortes, violência, ataques de tanques de Israel contra a população local indefesa. A mídia grande mostra uma guerra entre “facções” aramadas palestinas. Enganam-se os que pensam que o problema se resume

Quais facções em luta?


 


 


É bem verdade que no seio do movimento palestino atuam muitas correntes e facções, em sua maioria armadas, de resistência à ocupação de Israel de terras milenarmente pertencentes a esse povo sofrido. As maiores e mais importantes são o Al Fatah e o Hamas. O primeiro grupo, fundado por Yasser Arafat, morto há cinco anos, governou praticamente os destinos do povo palestinos desde 1967, há 40 anos. Em janeiro do ano passado, perdeu as eleições legislativas e o grupo político-religioso do Hamas venceu e formou um novo governo, recomposto com mais facções e forças políticas há uns dois meses.


 


 Ocorre que governar a Palestina, ou o que restou dela em termos de territórios, como a Faixa de Gaza (onde vivem quase quatro milhões de palestinos, em uma das regiões de maior densidade populacional do planeta) e parte da Cisjordânia não é tarefa fácil. Mesmo em tempos de paz. Mas a paz é coisa rara por ali. Israel bombardeia diariamente aldeias e cidades palestinas, destrói casas, mata líderes desse povo, atira bombas de fragmentação de forma aleatória. Reclamam quando um palestino explode seu corpo envolto em dois ou três quilos de bombas. Chamam-no de “terrorista”. Mas o que é um piloto de caça israelense que despeja centenas de quilos de bombas e mata crianças, jovens, mulheres e velhos em suas casas? Um santo? Como governar uma região, um povo nessas condições?


 


 


O que esta em jogo é a perspectiva futura dos acordos de paz que, mais dia menos dia virão. Hoje a correlação de forças no mundo ainda pende a favor de Israel, apoiada pelos Estados Unidos. Mas, até quando isso vai ser assim? Há esforços da liderança palestina de ambos os lados, em estabelecer a unidade. O inimigo maior, de todas as forças e correntes palestinas é o exército e o governo de Israel. Ehud Olmert, ainda que com a mais baixa popularidade de um governante, ainda tem força para infernizar a vida dos palestinos. É o que é pior: seu ministro da Defesa é o social democrata Amir Peretz, do Partido Trabalhista de Israel, desgastado profundamente com a fracassada incursão pelo Sul do Líbano em julho do ano passado.


 


 Temos enfatizado neste espaço duas coisas que são basilares em nosso ponto de vista: 1. O conflito não é e nunca foi religioso, ainda que tenha componentes dessa natureza. Ele é um conflito político, por disputas de terras e por espaços dentro da geopolítica regional do Oriente Médio, de criação de um enclave norte-americano e sionista que se chama Israel, em meio a uma nação árabe e 2. A paz nunca será possível sem que Israel devolva todas as terras tomadas pelas armas dos palestinos.


 


 No próximo mês de junho, vai ser lembrada uma triste data: os 40 anos da Guerra dos Seis Dias, quando o exército de Israel invadiu todas as terras em posse dos governos árabes (já que a Palestina não havia conseguido estabelecer um estado nacional como determinou a ONU em 1947). Israel toma toda a Cisjordânia das mãos da Jordânia e a Faixa de Gaza das mãos do Egito. Expande, quase que dobrando seu território, invadindo parte do Líbano, toda a península do Sinai (sim, lá mesmo onde Moisés teria recebidas as tábuas dos dez mandamentos) e as colinas do Golã da Síria. É a maior expansão do estado judeu na sua história. Até hoje os palestinos querem todas essas terras de volta. Mas, isso esta cada vez mais difícil, pois na Cisjordânia existem mais de 200 colônias israelenses onde vivem mais de 200 mil judeus, em sua maioria ortodoxa, de retirada quase impossível.


 


Uma nova liderança trabalhista


 


Ocorreu nesta última segunda-feira, dia 28 de maio, uma acirrada disputa interna pela nova liderança do PTI, Partido Trabalhista de Israel, de feições social-democrata. O atual líder e ministro da Defesa, Amir Peretz, perdeu fragorosamente. Isso por causa de seu desgaste e por ter sido citado na Comissão Winograd, junto com Olmert e o ex-comandante do Exército (que já renunciou). Peretz que prometia ser algo de “novo” no cenário da política israelense, mostrou-se velho em todos os sentidos. Mostrou as suas garras afiadas, autorizou massacres de palestinos e libaneses de forma impiedosa. Não fez gesto algum pela paz. Na política israelense, que é parlamentarista, um líder interno de um partido disputa a liderança pelo voto direto de seus filiados. Três principais concorrentes disputaram voto a voto nas eleições.


 


Os resultados mostram que um segundo turno irá acontecer no próximo dia 12 de junho e será disputado entre o ex-primeiro ministro Ehud Barak e o ex-chefe do Shin Bet (Serviço de Inteligência de Israel), Ami Ayalon. Os resultados finais ainda não foram divulgados (pelo menos até quando escrevemos esta coluna semanal), mas tudo indica e as pesquisas de boca de urna confirmam, que Peretz ficará em terceiro lugar, com menos de 17%. Uma derrota fragorosa.


 


Ayalon defendeu em sua campanha retirar da base de apoio do governo de Olmert, o PTI. Olmert hoje ostenta uma popularidade de ridículos 2% entre ótimo e bom, a pior da história dos governos israelenses. Não cai porque as forças políticas ainda não se acertaram de quem será seu sucessor. O próprio Ayalon vem dizendo que até ficaria no governo liderado pelo Kadima, desde que fosse outro o primeiro Ministro e não Olmert. Vamos conferir.


 


Aniversário de 250 colunas


 


Esta coluna está de parabéns. Não é qualquer dia que um escritor e colunista de algum órgão de imprensa como este prestigioso Portal Vermelho completa 250 artigos em mais de cinco anos seguidos. Começamos em 28 de março de 2002, uma quinta-feira. Sempre que enviamos as colunas para a redação, nós a numeramos e agora atingimos a marca redonda de 250 colunas. Apenas quatro semanas nesses mais de cinco anos deixamos de publicar artigos ou porque estávamos em viagens ao exterior ou por motivos de força maior (doença grave etc.). Quero de público agradecer à Eliana Ada Gasparini que, da forma mais gentil possível recebeu esses anos todos as colunas, reformatou-a, muitas vezes nos ajudou a localizar fotos e até algumas vezes fez a revisão ortográfica (mas todos os erros são de minha inteira responsabilidade).


 


 


Agradeço de público aos meus leitores constantes que me acompanham nesses anos, aos quais prometo mantê-los sempre bem informados, atualizados sobre esse complicado e misterioso mundo que é o Oriente Médio, que exerce uma atração quase que cósmica em todos nós e pode ser considerado o berço da civilização ocidental.

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