Polaridades ideológicas da pandemia

O surto de um vírus é, atingida a dimensão da “pandemia”, um evento global, traço que o insere no âmbito dos fenómenos (culturais, económicos e sociais) que o termo “globalização” encerra.

Pandemia se espalhou pelos continentes

“Pandemia” é um termo que indica, desde logo, uma sua dimensão global, que diz respeito a todos. O vírus, colocada a questão de forma simples, é uma estrutura que não possui capacidade metabólica autônoma. Sendo inerte fora do ambiente intracelular, recorre às capacidades metabólicas do hospedeiro para a finalidade da sua reprodução. Assim, o vírus desenvolve-se e propaga-se em função da capacidade de interacção dos animais infectados (entre eles, o ser humano), daí que a quarentena se apresenta como o mais antigo e mais seguro meio de combate a um surto viral.

O surto de um vírus é, atingida a dimensão da “pandemia”, um evento global, traço que o insere no âmbito dos fenómenos (culturais, económicos e sociais) que o termo “globalização” encerra, algo que decorre da superação das barreiras naturais de circulação dos seres humanos – as barreiras de circulação impostas às pessoas, considerados os limites geográficos naturais (aqueles que resultam da orografia) como aqueles que resultam das divisões políticas – as fronteiras entre os estados.

A economia global deu especial suporte ao crescimento do turismo, indústria que irá transformar a paisagem local, com inúmeros hotéis e casas de hospedagem, recorrendo a meios de transporte de grande capacidade, como os navios de cruzeiro que literalmente despejam milhares de pessoas nas cidades portuárias como Lisboa (e a cultura local se adapta, homogeneizando o produto, para o consumo dos autênticos “enxames” de turistas oriundos de paragens economicamente mais fortes, sendo o mercado asiático um dos que registava forte presença na velha olissipo. Para fazer circular os milhares de turistas, implantaram-se os “tuk-tuk” (numa versão modernizada do tradicional meio de transporte tailandês).

Se o desenvolvimento desenfreado do turismo era do agrado dos comerciantes locais (e também dos governantes, que o promovem, chamando os habitantes locais à lógica do serviço, pelo alojamento local), esse desenvolvimento, atingindo rapidamente o ponto de saturação que as condições locais permitem, provoca um desequilíbrio que irá prejudicar o modo de vida tradicional (uma perturbação que se instala ao nível do ecossistema).

O Covid-19, nome dado ao coronavírus que se dissemina hoje globalmente é um exemplo do que acima foi dito, mas apresenta outros traços que interessa analisar numa leitura ou corte ideológico. Como sugere o título deste texto, o vírus (ou, antes, a história do seu surgimento e propagação) é passível de uma leitura ideológica, que podemos realizar através da análise dos comportamentos que determinam, condicionam e acompanham a sua existência, bem como das suas consequências.

Em Portugal, um traço de comportamento social surgiu em torno das decisões governamentais de encerramento das escolas com o objetivo de se limitar o contacto comunitário e a contaminação a esse nível. Libertos das aulas, número significativo de estudantes universitários foram … para a praia! Logo surgiram críticas à falta de responsabilidade evidenciada. Por outro lado, o ministro da Educação do governo português, ao apresentar as decisões governamentais, fez questão de sublinhar que “os professores não estão de férias e que terão de se apresentar diariamente nas escolas”, numa afirmação mais de âmbito patronal que de estado, obrigação sublinhada mesmo que isso implique sujeitar os professores à contaminação em meios de transporte normalmente lotados.

A decisão de fechar as escolas foi colocada pelo governo português ao conselho nacional responsável pela saúde pública. O órgão consultivo deliberou unanimemente no sentido do não fechamento, enquanto o governo, apoiado em uma diretriz da União Europeia, acabaria por decidir em sentido contrário. Fica a sensacão de sermos todos “peões de jogo”.

As dimensões ideológicas do problema em apreço são colocadas também em relação ao seu início. Um artigo publicado a 2 de março, no site AbrilAbril, António Abreu apontava para a possibilidade de envolvimento de laboratórios norte-americanos no surgimento deste novo coronavirus. No artigo referido são alinhadas as coincidências temporais da publicação de um estudo elaborado pelo Instituto John Hopkins contemplando “uma simulação, com precisão, do coronavirus inicial” (em outubro 2019). Refere-se ainda no artigo, a correlação temporal entre o surgimento do Covid-19 na China e a realização dos Jogos Militares Mundiais de 2019, “realizados em Wuhan em Outubro passado”, onde participaram também militares norte-americanos.

A questão, que nos remete para os meandros mais sórdidos da guerra biológica, aparece agora referida de forma expressa por um responsável do governo chinês que questiona: “O CDC [norte-americano] foi posto contra a parede. Quando o paciente zero começou nos EUA? Quantas pessoas estão infectadas? Quais são os nomes dos hospitais? Pode ter sido o Exército americano que levou a epidemia a Wuhan. Sejam transparentes! Tornem públicos seus dados! Os EUA nos devem uma explicação!”.

A questão, segundo a notícia, levantada pelo porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Zhao Lijian, em post publicado no dia 12 março na plataforma Instagram afirma que o “Exército dos EUA pode ter levado a nova doença do novo coronavírus (COVID-19) para a China”, algo que, a ser comprovado, obrigará a uma revisão profunda dos posicionamentos a nível global acerca desta “pandemia”, da possibilidade de esta estar originariamente vinculada a uma dimensão ideológica no relacionamento entre nações e constituir mais um elemento da guerra (também) comercial que temos assistido, sempre que os interesses norte-americanos à esfera global são postos sob pressão (no caso, pelo crescimento económico da China).

A dimensão militar assinalada, vista segundo este prisma das “polaridades ideológicas”, ajuda a compreender também o modo e tempos de reação chineses. E convidam a refletir sobre a natureza ideológica dos comportamentos – da China face ao problema surgido no seu solo e da sua capacidade de reação, da sua postura solidária face ao descontrole que o mesmo apresenta na Europa, nomeadamente, na Itália – e da postura belicosa e irresponsável mantida por Trump e Bolsonaro, primeiro minimizando o significado da epidemia e depois, quando lhes bate dentro dos próprios gabinetes, assumindo discurso inverso.

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