Por um estado empreendedor

Propõe-se uma visão de Estado empreendedor que coopera com a iniciativa privada e investe em setores estratégicos para promover a inovação e o desenvolvimento econômico e social.

Imagem: Getty Images/iStockphoto

Em conversa recente com um amigo durante viagem para capital federal trocamos algumas impressões sobre o livro “O Estado Empreendedor”, da professora Marianna Mazzucato. A obra me surpreendeu positivamente, mas ele me chamava a atenção de como a autora não consegue propor que o próprio Estado nacional seja realmente empreendedor. Na verdade, acaba por este funcionar como um laboratório para desenvolver políticas ousadas, que requerem investimentos com grande aporte e que as empresas privadas não topam fazê-lo de largada.

Aqui temos um Estado parceiro, emulador, incentivador da indústria nacional, e não pensem que a autora está falando de países socialistas, o exemplo mais expressivo de tais iniciativas está nos Estados Unidos, com o desenvolvimento de pesquisas pelo que criaram tecnologias que depois foram incorporadas pela Apple, como o touch e a siri.

Isso por si só é sim ousado e promissor, mas por que o próprio Estado não poderia empreender? Criar novas indústrias públicas estatais? Na atualidade até a grande imprensa brasileira já passou a criticar o discurso neoliberal puro, de privatizações a torto e a direito, assisti recentemente na Globo News seus comentaristas expressando uma visão que há 20 anos seria impossível de se ouvir por lá.

A pandemia nos mostrou de maneira clara e chocante a necessidade dos Estados nacionais desenvolveram alguns produtos, insumos e tecnologias essenciais na área da saúde e para além desta. São um forte argumento para o Estado voltar a investir na indústria nacional, mas também nas estatais (sempre bom lembrar que nossas primeiras vacinas saíram do Instituto Butantan e do governo de São Paulo que corria para enfrentar a pandemia enquanto o governo federal a negava).

O que resta do discurso neoliberal diria que isso gerará despesas e mais empregos públicos, mas os próprios grandes empresários na área de tecnologia nos EUA hoje já defendem linhas de auxílio financeiro governamental para os mais pobres em função da crise global que não consegue se encerrar há mais de 20 anos e que causou a retração de empregos, inclusive com a extinção de postos de trabalho.

Então o Estado criar empresas em áreas promissoras, como foi no passado com a Petrobras e a Hemobras, dialoga não só com mais emprego, também o faz com o investimento em pesquisa sendo feita por este e depois materializada em produtos pelo mesmo, com potencial de ganho social em grande escala, atingindo segmentos da sociedade que não são e nunca foram prioridades de empresas privadas. Aqui temos investimentos com função social, não apenas em busca do lucro puro, além de poder dialogar com nossos parceiros da América Latina e dos Brics, vendendo para eles.

A ousadia de defender um Estado robusto parece ainda assustar alguns pesquisadores e intelectuais, mas nos parece que esses carecem de entender mais e melhor a entrega que as empresas precisam ter junto à sociedade, os lucros exponenciais delas precisa ser acompanhado da melhora de vida da população, avanços incríveis na tecnologia e nas pesquisas convivem com um mundo marcado por milhares que não tem nada para comer, cabe ao Estado cobrar a função social das empresas e do seu lucro, mas também empreender para colaborar no sentido dessas inovações chegarem mais e melhor na ponta, gerando riqueza de uma maneira mais distributiva e humana.

Isso não nega e não se contrapõe as empresas privadas, essas estão em crise há mais de uma década, seguem fechando e demitindo, precisam de um Estado que as incentive e apoie, na perspectiva que propõe a professora Mazzucato, mas este Estado pode também ser forte e empreendedor, são coisas que se complementam e não se negam.

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