Programa de índio para o socialismo

Nós, os cabocos comunistas, graças a Deus somos ateus como os filisteus da resistência à invasão da terra da Promissão… Carece deslindar a frase cabulosa de “macacovélico” – mestiçagem de macaco velho com filosofia de Maquiavel – e explicar o paradoxo da bubuia pragmática, tal qual um bom enigma zen rico, exatamente, pela contradição dialética.

Segundo analistas da cena mundial, a China vai bem, meu bem; muito obrigado. Graças à herança cultural chinesa bem resolvida pela revolução camponesa do camarada Mao, que sabiamente protegeu monastérios budistas na Longa Marcha, que nem guardas do Caminho de Santiago apostaram no turismo religioso e os caminhantes não dispensam GPS e telefonia móvel na marcha ao encontro de si mesmo: enquanto isto, a orgulhosa União Soviética implodiu na pressa acelerada ao ateísmo de carteirinha imposto custe o que custe pela nomenklatura acadêmica do Kremlin que, provavelmente, nunca plantou nem colheu um único pezinho de tomate em nome do proletariado internacional. Ah, sim; tudo pelo famoso plano decenal! Para ser dizimado pelo general Inverno…

Os camaradas eslavos, no atalho pré-industrial, assustados pela insanidade danada capitalista das bombas de Nagasaki e Hiroxima, escorregaram na teoria da Evolução. Porém deveriam saber que a pressa é inimiga da perfeição. Não aprenderam na universidade da maré, por exemplo; que para degustar a divina canhapira em meio à prataria e porcelana da 'belle époque' é preciso esperar pelas famosa chuva dos campos de Cachoeira e ir, depois, disputar com bichos soltos a colheita dos frutos dourados no chão de Dalcídio sob sol equatorial, dentre risco de cobra e espinhos de pés e braços de tucumã (Astrocarium vulgare), passando pela mais valia do pilão e fogão à moda antiga da ilha do Marajó. Ora, se a indústria da patifaria descobre o segredo artesanal dos cabocos vai matar a galinha dos ovos de ouro, para transformar a polpa em dinheiro e consumo do deus-Mercado. Zeus nos livre das leis de mercado e da tal Mão Invisível!…

Claro, este tesouro encontrado na boca do Amazonas não está ainda no catálogo da gastronomia brasileira, como também não existe catálogo internacional da cerâmica marajoara (apesar da memorável briga entre a pedra colonial e o barro pré-colombiano levantada por Heloísa Alberto Torres), noves fora o magnífico trabalho da gaúcha-marajoara Denise Schaan ( www.marajoara.com ) no tratado “Cultura Marajoara”, que merece o Prêmio Jabuti. O diabo é a personificação da inveja. Portando, não é porque o IPHAN fez tombamento do acarajé no patrimônio nacional, que o tacacá do grão Pará vai ficar chateado. Todavia, o mundo precisa saber do mistério supimpa do casamento afro-americano na terra sem males do extremo-norte dos Brasis, celebrado na sacrossanta canhapira que nos inspira a vulgarizar a Evolução entre a criaturada das populações tradicionais.

A marcha para o avenir do Comunismo começou no comunismo primitivo, aurora da humanidade filha da animalidade. Todo mundo nasce despido de boas ou más intenções, entre fezes e urina, mendigos ou barões. Mas, logo que dá o primeiro suspiro abre o berreiro e começa a chorar: primeiro sinal de vida. O poeta dos Índios a cantar “viver é lutar”… Desde então mergulha-se no rio do tempo, tal qual o mal humorado Heráclito falou. Do mesmo modo que pescador se arrisca a banzeiro e ventania, todo dia, para trocar peixe por miséria maluca, carece meter diamba no corpo doido: a travessia do Mar-Tenebroso da cultura nos leva a consumir “ópio do povo” à beça. Gramsci explica? Segundo o iconoclasta e canibal Oswald de Andrade, é preciso partir de um profundo ateísmo para recuperar a ideia de Deus… Ou Natura (Espinosa).

Um caso a pensar no “apocalypso” do sistema industrial pós-COP/15. De volta à maloca, capitalista caduco! Os últimos serão os primeiros? Façam como os chineses. Conquistem o espaço e desvendem o segredo dos átomos, mas não esqueçam usos e costumes ancestrais de sobrevivência que a Terra ensina aos plantadores do Futuro. Cuidar do feijão com arroz em primeiro lugar: na economia real ninguém come salada de dinheiro.

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