Prontos para assaltar

O mundo desigual pari feridas e sonhos. Moranguinho, continua vivo, em cada bala encontrada nas bocas sufocadas da paisagem empobrecida

Foto: Reprodução

Moranguinho, preto, pobre, morto. Ainda não tinha votado, tirou apenas o título da ilegalidade. Foi fotografado com a bandeira do Brasil olhando para um horizonte de miudezas e  restos. 

Brincava de bila, bola e pipa.  Inquieto. Parece que tinha  andanças postas num liquidificador, bagunçadas. 

Moranguinho ria, mas devia ter uma vida azeda. Sua mãe era uma anônima. As pessoas anônimas são aquelas que tiveram suas dores enterradas na vala da exclusão.  As dores são tratadas como  frescuras para  pessoas desnutridas de esperança. Seu pai também era um escondido da história. 

O mundo desigual pari feridas e sonhos. Moranguinho, continua vivo, em cada bala encontrada nas bocas sufocadas da paisagem empobrecida.  

Moraguinho não teve como escolher, nem sei se ele comeu  frutos vermelhos. O menino preto e pobre foi assassinado desde o dia que nasceu. 

Ao dobrar a esquina, da rua  esquecida, brotam Moranguinhos,  prontos para assaltar a felicidade que lhe foi roubada.

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