Redes digitais e comunidades de prática

As redes sociais, parte intrínseca da cultura, transformam as interações humanas, influenciando a educação, a política e as relações sociais.

As redes sociais existem há milhares de anos, fazendo parte da própria civilização e da cultura da humanidade de modo tão intrínseco que mal temos consciência de sua existência. Além das relações presenciais, há muito que a distância tem sido superada por mecanismos de comunicação como a escrita, os correios, a imprensa, o rádio, o telégrafo, a televisão etc. Hoje com isso tudo na internet.

Porém, as redes hoje estão em evidência e o senso comum designa cada vez mais por este termo as redes digitais que se desenvolvem através das tecnologias de informação e comunicação na internet (Instagram, Facebook, YouTube, TikTok, ex-Twitter, Wikipédia, WhatsApp e muitas mais), além de outros ambientes de interação na web.

Sua interconexão com a mobilidade (celulares e outros dispositivos) torna-as ainda mais em poderosos instrumentos para que a humanidade faça o que sempre fez desde o início de nossa espécie: tecer relacionamentos, físicos ou virtuais, envolvendo finalidades profissionais, sexuais, amizades, casamentos, negócios… A forma com que as redes sociais podem ser usadas como ferramenta na vivência escolar, sindical, partidária – e certamente elas têm esse grande potencial – é um grande desafio, e cabe aos próprios educadores e militantes procurarem essa resposta!

As novas tecnologias de informação e comunicação são extensões do cérebro, permitem concretizar conceitos, juntar dados a informações significativas, desenvolver projetos que exijam a aplicação prática de conceitos teóricos. Mas é necessário levar em conta que o mero uso dessas tecnologias não garante maior domínio da linguagem ou do raciocínio, não assegura a formação cultural nem o desenvolvimento de cidadãos, pois isso somente é assegurado quando há uma efetiva apropriação pelo projeto político-pedagógico, e esse é o desafio que torna professores e lideranças sociais o elemento central dessa questão.

Para que exista vida numa comunidade virtual, é importante pensar-se sempre no que as pessoas estão fazendo ali. Pessoas só se juntam em comunidade por interesse, por prazer ou por obrigação. Uma comunidade escolar começa por ser obrigatório frequentar a escola. Uma comunidade profissional inicia-se pelo interesse das pessoas em ganhar seu sustento. Um grupo de amigos fazendo um churrasco num final de semana tem como motor o prazer do convívio. Uma organização política necessita de objetivos definidos e metas de ação claras.

Num ambiente virtual as coisas não são diferentes. Num primeiro momento, a curiosidade pode levar as pessoas a se cadastrar num grupo, mas em poucos dias o interesse inicial pode virar abandono se não houver objetivos claros em jogo, se não houver uma necessidade real de estar conectado, seja por lazer, por motivos políticos ou profissionais.

Assim como na vida real, pequenos lugarejos crescem economicamente ao fazer trocas com outros, construindo estradas e pontes a ligá-los, trocando bananas por café através de carroças ou trens, promovendo novas amizades, casamentos, construindo relações econômicas e culturais, num caminho que acabou levando à construção das nações. Também na vida virtual a coisa se processa de modo semelhante, pois o fator principal é o mesmo: a humanidade e suas trocas.

Como numa comunidade física, criar e manter uma comunidade virtual dá algum trabalho, de construção, de administração. No início é difícil, pois trata-se de um novo paradigma, é necessário levar as pessoas pela mão, explicar o que é cada ambiente, como funciona cada ferramenta. Quase como se tivéssemos que ensinar um “marciano” a chamar um Uber, coisa desconhecida para nosso improvável alienígena.

Numa comunidade de prática é crucial construir seus “edifícios” (bancos, escolas, bibliotecas, hospitais), depois recheá-los de conteúdos e ter quadros, profissionais ou voluntários, engajados na sua manutenção – pois além de produtos (dinheiro no banco, livros nas bibliotecas, remédios nas farmácias) há também os serviços (professores na escola, médicos nos hospitais, juízes nos tribunais). Tudo isso exige lei e ordem, regras claras de comportamento, bem como um mínimo de democracia para que o autoritarismo não mate os saborosos frutos que só a liberdade produz. Esse conjunto exige governança, com administração e quadros funcionais, senão as carências estruturais podem impedir a fluidez das sinapses sociais (lembrando que no virtual circulam os bytes e não as moléculas).

Na sociedade da informação as pessoas não mais precisam deslocar o corpo para acessar uma informação (tenho que pegar um ônibus e ir à biblioteca antes que feche), pois agora fazemos a informação vir até nós. Porém a realidade objetiva é cada vez mais uma mescla composta do virtual e do presencial, de bits e de átomos, ambos interagindo de forma indissociável.

A obra Imperialismo, etapa superior do capitalismo, de Vladimir Lênin, descreve o imperialismo como uma expressão do estágio avançado do capitalismo, caracterizado pela concentração de capital em monopólios, pela exportação de capital para o exterior em busca de novos mercados e pela exploração econômica e política de regiões coloniais e dependentes – mostrando como os monopólios controlam vastas porções da economia e como as potências imperialistas competem agressivamente por recursos, territórios e influência global. Aborda também a interconexão entre o imperialismo e as tensões geopolíticas, com rivalidades a desencadear conflitos e guerras, pois o imperialismo leva inevitavelmente a confrontos militares e a paz duradoura só pode ser alcançada por meio da luta dos trabalhadores contra seus exploradores capitalistas.

É neste contexto, mais atual que nunca, que o domínio do mundo cada vez mais é feito usando plataformas digitais para desequilibrar mundialmente a luta dos trabalhadores, com os super-ricos a ficar cada vez mais ricos.

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