Retardar o envelhecimento pra quê?

Em meio às propostas de retardar o envelhecimento, opte por abraçar a vida tal como ela é, com suas alegrias e desafios, guiado pela sabedoria do tempo vívido.

Foto: Justin Vidamo/reprodução El País

O ilustre neurocientista Álvaro Machado Dias escreve na Folha de S. Paulo que é possível retardar o envelhecimento alterando a mentalidade e o imaginário popular sobre essa condição humana.

Já há técnicas cientificamente reconhecidas para tanto, segundo ele.

Ainda nas suas palavras, o envelhecimento na essência é uma “combinação de experiências subjetivas, práticas coletivas e mudanças na estrutura funcional do nosso corpo e em nossa maneira de pensar.”

Tudo bem.

Não tenho como discordar, eu mesmo já incluso nessa categoria: “Vovô, você está ficando velhinho”, escutei da minha neta pequena tempos atrás.

No artigo, o neurocientista desfila dados e argumentos que me parecem incontestáveis.

Mas cá com meus mais do que modestos botões, não vejo vantagem em retardar meu atual período etário. Gosto da vida que levo, plena de desafios, problemas políticos a enfrentar, convivência familiar prazerosa, angústias e paixões, muitas amizades bem curtidas, que eu saiba nenhuma inimizade, prazeres diversos…

É a aventura da vida na sétima década de vida!

E o que virá depois?

Nem sei se ainda terei um “depois”. Prefiro pensar e agir como quem alcançou o porto almejado após longa e atribulada navegação por mares ora calmos, ora revoltos.

Olho pra trás e felizmente não me arrependo de nada. Não me cobro por nenhuma das escolhas – e fiz muitas, diversas com boa dose de dramaticidade, sem chance de meios-termos.

E ainda me beneficio de um imaginário binóculo de dupla face com que enxergo o cotidiano: sem me espantar com o que há de novo, mas sem desprezar as lições acumuladas. Olho o presente e o futuro sob o crivo do vivido e aprendido.

Então, sem menosprezar os argumentos muito bem-postos do neurocientista, sigo Zeca Pagodinho: deixo a vida me levar…

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