Sobre o 11 de setembro
Publicado 12/09/2011 14:07
E o 11 de setembro completou 10 anos. Naquele setembro de 2001 a nossa fronteira vivia em chamas. Findava-se as expectativas econômicas do governo FHC e a completa falta de uma política internacional que levasse em conta nossos vizinhos, mostrava a face mais dura e mais violenta nesta tríplice fronteira. O atentado em Nova Iorque só jogou mais combustível naquela fogueira – passamos a ser vigiados e acusados diuturnamente.
Em setembro de 2001 os trabalhadores paraguaios de Ciudad del Este eram jogados contra os trabalhadores brasileiros que trabalhavam nas lojas da cidade paraguaia. Os paraguaios reivindicavam justamente regras que garantissem o emprego deles, substituídos por brasileiros em dez de cada dez lojas do comércio do país vizinho. A Ponte da Amizade era fechada ora pelos paraguaios que reivindicavam seus direitos, ora pelos trabalhadores brasileiros em reação a cada conquista dos paraguaios. No dia 12 de setembro, enquanto o mundo ainda tentava entender o que acontecera em Nova Iorque, milhares de paraguaios marchavam pelo centro de Ciudad del Este com bandeiras e faixas.
Ou seja, nesta fronteira nós tínhamos uma série de outros fatos para debater. Era a guerra pela sobrevivência.
Na tarde daquele dia 11 de setembro (atuava no jornal O Paraná) estava mais preocupado em cobrir as manifestações da fronteira do que analisar os ataques aos EUA e como muitos naqueles dias, comemorei. Afinal, pela primeira vez os EUA sentia na sua carne todo o mal que já provocara ao redor do mundo. O império ardia em chamas e seus cidadãos também choravam seus mortos (assim como tantos choraram os assassinados ao redor do mundo por soldados americanos ou por seus aliados).
Falsamente, tudo justificava comemorações. Nas lembranças estava Hiroshima, estava Nagazaki, estavam os financiamentos e os apoios as atrocidades israelenses cometidas contra o povo palestino, estavam as articulações aos golpes militares da década de 60 na América Latina, estavam todas as guerras patrocinadas ao redor do mundo, estavam todos os déspotas construídos em nome da manutenção do poder do Império do Norte.
No entanto, aos poucos fomos entendendo que todas aquelas mortes inocentes, toda aquela destruição transmitida ao vivo para o planeta, talvez não passasse apenas de uma etapa de um jogo para justificar todas as ações que viriam a seguir, mas principalmente para garantir uma bandeira política ao tal de George W. Bush e assim manter respirando o poderio norte-americano.
Muitos já fizeram esta análise, muitos já defenderam esta tese, muitos até creem ser os próprios órgãos de repressão norte-americanos os responsáveis pelos atentados. Todos os fatos ocorridos posteriormente, por mais conspiracionistas que possam parecer estas teses, no entanto, servem no mínimo para provar que estávamos errados quem comemorou o 11 de setembro.
Logo após a ocupação do Afeganistão, quando as coisas começaram a ficar claras, escrevi o poema, que segue abaixo, publicado no livro “Risos da Fronteira”, em 2003, em meio a ocupação do Iraque. Para refletir:
Não mataram o Bush
As torres caíram
Os aviões explodiram
As pessoas morreram
Mas não mataram o Bush
O povo sofreu
O coração foi ferido
A dor se abateu
Mas o império sobreviveu
Não mataram o Bush
Ele continua disseminando a dor
Espalhando o terror,
Destruindo o planeta
Dominando o mundo
Não mataram o Bush