“Sonho de um Carnaval”

“Esse movimento do Carnaval de rua, através das centenas de bloquinhos e blocões, é marcado, em sua maioria, por uma contundente crítica política e social.”

O Carnaval está em pleno vapor em Belo Horizonte. Isso mesmo, desde o dia 8 de fevereiro até o dia 1º de março ocorre oficialmente a programação carnavalesca. Para uma cidade que até poucos anos atrás era um verdadeiro deserto durante o Carnaval, atualmente são esperados nas ruas mais de três milhões de foliões. Uma festa marcada pela alegria e por protestos irreverentes que desnudam os descaminhos da política nacional. Além disso, uma festa muito importante para movimentar a economia da cidade, sobretudo em tempos de crise.

Durante o período que compreende a programação oficial do Carnaval belorizontino, mais de 450 blocos tomarão conta das ruas da cidade em mais de 500 desfiles. Esse movimento do Carnaval de rua, através das centenas de bloquinhos e blocões, é marcado, em sua maioria, por uma contundente crítica política e social.

Presidentes da República, governadores, prefeitos, senadores, deputados e ministros, são personagens que comumente têm seus rostos transformados em fantasias durante as festas. O descontentamento com os rumos do país e as ações e declarações desastrosas do governo Bolsonaro, como no caso das queimadas na Amazônia, ou na demonstração preconceituosa do ministro da economia em relação à possibilidade das domésticas irem à Disney, por exemplo, se transformam num prato feito para as fantasias mais politizadas.

Por outro lado, uma polêmica tem marcado esse início de Carnaval em Belo Horizonte. A prefeitura orientou os foliões a não usarem fantasias que pudessem sugerir preconceitos, tais como fantasias de índios, black powers, homens fantasiados de mulheres, dentre outras orientações na linha do politicamente correto. Ora, o Carnaval é o único momento do ano em que as pessoas assumem personagens que ao longo do ano não são. A atriz Alessandra Negrini ter se fantasiado de índia no bloco Baixo Augusta em São Paulo, não a torna menos defensora dos direitos indígenas no Brasil. O que prefeitura precisa orientar e fiscalizar fortemente são os assédios e violências contra as mulheres, a boa sinalização de trânsito, a quantidade suficiente de banheiros químicos, o número de ônibus em circulação e a segurança das pessoas. O resto fica por conta do bom humor, da alegria e da irreverência da população.

Os dados econômicos são outra mostra da importância do Carnaval. A cada R$ 1 investido no evento na cidade, são incrementados outros R$ 39,48 na economia do município e outros R$ 22,63 no Produto Interno Bruto. São gerados 6500 postos de trabalho durante o período oficial da folia e R$ 165 milhões são injetados do PIB do município, de acordo com dados da prefeitura em relação ao Carnaval de 2018. Restaurantes e bares, hotéis, rodoviárias, aeroportos, têm um faturamento superior à média anual. Os cerca de R$ 14 milhões investidos pela prefeitura, R$ 6 milhões de forma direta e outros R$ 8 milhões através de editais de patrocínio. É um bom investimento, pois estimula um retorno satisfatório para a economia da cidade. Por isso, para além da folia, o Carnaval de Belo Horizonte passou a ser importante também para economia.

Como diz Chico Buarque em sua canção Sonho de um Carnaval: “… Era uma canção, um só cordão e uma vontade de tomar a mão de cada irmão pela cidade…” Que esse Carnaval seja animado, alegre e de paz. Que leve embora as dores de uma cidade castigada pelas enchentes e faça brotar a esperança de um ano com mais justiça, tolerância e amor ao próximo.

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