Todos fazemos política, todo o tempo.

A defesa da política participativa e a crítica à privatização de serviços essenciais ganham destaque em meio à discussão sobre greves e ações governamentais.

São Paulo/SP - Metroviários, ferroviários e trabalhadores da Sabesp durante assembleia para organizar greve unificada (02.10.2023) | Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O filósofo grego Aristóteles cunhou a frase “O Homem é um animal político”. A vida pública na Grécia antiga ocorria de maneira incessante entre os que eram então considerados cidadãos e a política foi criada para regular os conflitos da pólis, que era o local onde esta acontecia e era compartilhada.

Aristóteles deve estar se contorcendo no além ao ouvir os absurdos proferidos por Tarcísio Pereira, governador de São Paulo, ao atacar a greve conjunta de vários setores do serviço público que ocorreu no último 3 de outubro e reclamar que o movimento “era político”.

Ora, até hoje nós seguimos vivendo inseridos em sociedade, justamente por isso precisamos desmistificar o discurso que cabe apenas aos políticos fazerem a política ou, ainda pior, que a política só está presente na vida da maioria das pessoas durante as eleições, quando elas passam caberia apenas aos eleitos a fazerem, como se tivéssemos passado um cheque em branco para os governantes e devêssemos tocar nossas vidas… não poderia existir equívoco maior, além de um desrespeito a democracia participativa consagrada na Constituição de 1988, o povo segue participando, fiscalizando, cobrando entre as eleições, todo o tempo.

Todos fazemos política, todos os dias, o tempo todo, seja em casa, na escola, com os amigos, no trabalho, faça chuva ou faça sol, é parte do nosso cotidiano, existir por si só já é um ato político! Então, ao governador insistir em tal tese mais do que batida de que a greve era política acaba por jogar água no moinho da despolitização e requenta um discurso que foi imediatamente acolhido e amplificado pelos meios de comunicação de massa que reclama dos prejuízos causados aos trabalhadores, mas não se preocupam em explicar para a população o tamanho descomunal do prejuízo que estes mesmos terão caso o metrô seja privatizado.

O mais curioso é que, entre as bandeiras dos manifestantes, figurava justamente a luta contra a privatização do metrô de São Paulo. O governo paulista cedeu 2 linhas a iniciativa privada, são as mais problemáticas, apresentando problemas e falhas até 10 vezes mais do que as que operam sobre controle público.

No dia da paralisação justamente essas 2 linhas decidiram oferecer uma “amostra grátis” a população paulistana de como será o serviço oferecido ao povo pelo metrô privatizado, falhando em plena paralisação das demais linhas que estavam em greve. Chegaram ao escárnio de alegarem uma “sabotagem”. Seria cômico se não fosse trágico…

Vamos a alguns números publicados pelo jornal Folha de São Paulo “As estações da linha 9-esmeralda, que opera de forma parcial desde a tarde de terça-feira (3) em razão de falha elétrica, estão lotadas desde o começo da manhã desta quarta-feira (4) em São Paulo. O tempo de espera chega a 30 minutos. A linha não circula entre as estações Vila Olímpia e Pinheiros. A linha é uma das duas geridas pela empresa Viamobilidade. A falha elétrica começou por volta das 14h de terça (3) em meio à greve conjunta entre o Metrô, CPTM e Sabesp. Em pouco mais de um ano sob a administração da ViaMobilidade, as linhas 8-diamante e 9-esmeralda acumularam 166 falhas, ou seja, média de uma a cada três dias”

A greve é direito de todos os trabalhadores e trabalhadoras do Brasil, é um instrumento de luta garantido pela Constituição de 1988 e, nesse caso especificamente, foi marcada por uma luta concreta e real de garantir um serviço de metrô público e de qualidade. Qualquer “prejuízo” causado momentaneamente no dia da greve não chega nem perto do que espera os usuários do serviço do metrô na capital paulista se ele, o serviço de fornecimento de água e outros mais forem privatizados. Essa agenda tem nome, é neoliberal, não conta com o apoio de grande parte da população, como mostra pesquisa que aferiu expressiva maioria que tem receio de passar a Sabesp para iniciativa privada.

Até os grandes meios de comunicação não ousam mais defender privatizações a todo custo, o resultado da sanha privatista no Brasil não melhorou em absolutamente nada os serviços assumidos pela iniciativa privada, aumentaram os preços da energia elétrica em vários estados do nordeste, subiram os pedágios na própria São Paulo e outras pérolas. Há de se ter parcimônia quando se fala em privatização, se é verdade que nem tudo precisa ser público também é que o estratégico para um país se desenvolver precisa ser, está aí a pandemia e a corrida por vacina e insumos que não nos deixa mentir. Estado forte ajuda e potencializa um país industrializado e com emprego, não há contradição alguma nisso.

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