Um raio chamado Bolt

Em apenas 9s58 um homem pode provar que é possível subverter algumas máximas: a vontade humana não conhece os limites que a ciência nos coloca e um pequeno país pobre da América Central pode se tornar o centro do atletismo mundial. Este homem é Usain Bolt!

A Jamaica é mais um país da América Central que sofreu com a colonização européia, culminando em uma situação de extrema pobreza para seu povo até os dias de hoje. Diante desta realidade, fica difícil imaginar que o país se torne uma potência esportiva, diferentemente de Cuba, que sofre com vários dos mesmos problemas, mas apostou, dentre outras coisas, no esporte como uma alternativa para emancipar seu povo das condições terríveis herdadas dos colonizadores.

Mas atletas existem, e eles dão seu jeito para treinar e disputar competições. Driblam os problemas e, muitas vezes contando com a “sorte” de conseguir bons locais para treinos em outros países, brilham em suas modalidades. O país de Bob Marley, que era sabidamente um amante do futebol, nos mostra uma boa safra de atletas, tanto no masculino como no feminino. Mas Bolt é uma lenda!

Olhando para Usain Bolt, um homem notoriamente grande, não se diz imediatamente que seja tão rápido. Pelo contrário, é mais fácil dizer que é um fundista, daqueles que correm 42 km com facilidade, mas para 100 metros não levaria menos de 12 segundos para cruzar a linha de chegada. Mas que nada! Suas pernas compridas parecem lhe colocar metros a frente dos outros em apenas uma passada. E em 41 passadas este homem faz história!

Muito se estudou sobre a corrida perfeita para a prova mais nobre do atletismo. Desde a largada, até o aumento ou recuo de ritmo de corrida, a depender do trecho em que se está percorrendo. Reagir rapidamente à largada é um dos elementos que colocam o atleta numa condição superior aos demais. Bolt teve a sexta melhor reação, em 8 atletas. Além de empreender a maior velocidade possível nas passadas ao longo do percurso, é importantíssimo ter uma boa chegada. Ou seja, guardar seu máximo para o chamado sprint final pode decidir sua colocação em uma prova onde centésimos de segundo definem o campeão e os 7 derrotados.

O jamaicano se dá ao luxo de comemorar a vitória quando ainda faltam cerca de 5 metros para o final. Nas Olimpíadas de Pequim, em 2008, ele chegou a dar tapas no peito antes de cruzar a linha e quebrar o recorde mundial da prova. Por tudo isso, a expectativa criada sobre Bolt para o Mundial de Atletismo em Berlim era gigante. Não se discutia a cor de sua medalha, mas sim o seu tempo. Seria capaz o ser humano correr 100 metros em menos de 9s60? O ser humano não sabemos, mas Bolt é!

Correndo contra outros grandes atletas como Asafah Powell, também da Jamaica e ex-recordista mundial dos 100 metros rasos, e Tyson Gay, a maior aposta da maior potência olímpica da história, Bolt foi soberano. Gay, que ficou com a prata, bem que tentou ao menos se aproximar. Marcou o melhor tempo de sua vida, com 9s71. Talvez seja esse o tal limite humano para a ciência. Treze centésimos atrás de Bolt, uma eternidade!

Durante a prova, via-se que a expressão facial de Gay era a de alguém que estava no seu limite, dando o máximo de si para poder surpreender o mundo. Reconhecemos o seu esforço, merecidíssimo segundo lugar. Bolt pode se aproximar da linha fatal, olhar para Gay e vê-lo distante, depois virou o rosto e fitou o cronômetro, viu no passado sua marca olímpica, e partiu pra festa, pra dança que lhe é peculiar, pra história do atletismo. Chamou seu amigo Powell, medalha de bronze, para comemorar com ele. Naquele momento, o mundo era jamaicano.

A ciência, ainda atônita, tenta explicar o que aconteceu. Como um homem com a compleição física de Bolt pode ser tão rápido, tão fantástico? Se eu fosse cientista, desistiria. Simplesmente, ao ver Bolt correr, falaria que ele não é humano. Ele é um herói! E heróis não precisam ser compreendidos, somente admirados. Chamou a atenção a imagem de um fotógrafo, de forma física anti-atlética, tentando acompanhar a comemoração de Bolt ao fim da prova. Correndo o máximo que podia para conseguir uma foto do campeão. Ali, era o mundo correndo atrás de Bolt, mas ele já estava longe. Bem longe…

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