Uma decisão histórica e pedagógica

A demarcação contínua da reserva indígena Raposa-Serra do Sol em boa hora decidida pelo governo federal e recém homologada pela Suprema Corte, por dez votos contra um, permite uma riquíssima discussão sobre muitas das grandes questões nacionais. Os temas

Pouco se duvida de que a Amazônia é o grande paraíso dos grileiros que, no caso dessa reserva, são generosamente chamados de arrozeiros por nossa mídia pouco atenta, complacente. Tampouco é desconhecido o fato de que o índio foi historicamente dizimado e encurralado praquelas bandas, tangido pelas armas e pelas doenças do invasor branco. Quem levou a cachaça, a espingarda e o vírus para a Raposa-Serra do Sol?


 


 


A isolada defesa dos grileiros feita pelo ministro ”periférico” Marco Aurélio Mello levou em consideração paranóias militares sobre uma iminente invasão do território nacional por forças alienígenas, precedidas por Ongs “infiltradas” na região. Paranóias que reforçavam a promiscuidade entre políticos de Roraima e invasores de terras públicas. Ombro a ombro com agressores do meio-ambiente e assassinos de índios.


 


 


Em 13/9/08, na Folha de S Paulo, o jurista Walter Ceneviva já identificava na tese militar “um dos cenários ficcionais divulgados, para ocultar ou disfarçar os interesses (econômicos) dominantes, (que) consiste em afirmar ameaçada a soberania brasileira, em particular na fronteira com a Venezuela”. O apelo fácil e demagógico de um discurso falsamente nacionalista a esconder um forte viés econômico.


 


 


A área da Raposa-Serra do Sol corresponde a apenas 7,7% do território de Roraima e abriga mais de 190 comunidades dos povos macuxi, taurepang, patamona, ingaricó e wapichana. Cerca de 18 mil índios habitam a região. A contínua integridade territorial ajuda a preservar a cultura indígena e combate políticas indigenistas ultrapassadas que impõe o “aculturamento” dos índios. Como se os índios nascessem sem cultura.


 


 


Para o líder indígena Júlio Macuxi, a decisão do STF “é boa para o povo brasileiro” porque regulamenta nacionalmente a questão da demarcação das terras indígenas. E porque permite um resgate cultural que inclui uma contribuição efetiva para o desenvolvimento sócio-econômico da região. Para Júlio, será o fim da violência física e psicológica e as pressões de ampla natureza que há muito aterrorizam os povos dali.

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