Uma grande baixa no front

O camarada Fábio vai fazer muita falta. Soldado da linha de frente na luta pelo socialismo, morreu vítima de acidente automobilístico que no Brasil mata mais que a guerra no Iraque. Triste realidade de um país que já viu morrer mais comunistas em suas rodovias que as ditaduras juntas puderam assassinar.

Uma das últimas coisas que conversei com o Alemão, como era conhecido em Novo Hamburgo e no Rio Grande do Sul, foi justamente sobre o perigo de se dirigir no Brasil. Para quem trabalha dirigindo (como era o seu caso), o risco é ainda maior. Na semana passada, quase perdemos o secretário estadual de organização de Minas Gerais e seu assessor em grave acidente na BR 040. Esses acidentes nos obrigam a redobrar os esforços para humanizar o trânsito no Brasil.

Fábio foi mais um entre os 35 mil brasileiros que morrem anualmente nas estradas brasileiras. Números alarmantes resultado de décadas de ausência de investimento na recuperação e ampliação das rodovias brasileiras e da carência de uma política efetiva de transportes capaz de minimizar a dependência da via rodoviária.

Um país com enorme potencial hidroviário, detentor de vastas regiões com topografias adequadas às ferrovias e grandes possibilidades para avançar na aviação, ainda é refém de um modelo anacrônico baseado num transporte rodoviário sucateado. E enganam-se aqueles que pensam que as rodovias privatizadas registram menos acidentes.

O governo Lula vem investindo em recuperação de estradas. Basta viajar pelo Brasil para constatarmos isso. Entretanto, medidas mais enérgicas precisam ser adotadas. Temos quase o mesmo efetivo da Polícia Rodoviária Federal que na década de 80, quando a malha rodoviária e o número de carros eram muito menores. A sensação de impunidade é enorme. Isso sem falar nas campanhas midiáticas que incentivam a todos comprarem carros cada vez mais potentes e sermos “velozes e furiosos” nas estradas. Enquanto isso, nos últimos três meses foram vendidos mais de 700 mil veículos no Brasil.

Além das capacidades e talentos como o Fábio que se esvaem diariamente, o país perde 30 bilhões por ano somente no atendimento às vítimas de acidentes que em sua enorme maioria poderiam ser evitados. Trata-se, portanto, de uma política de saúde pública.

Os dados do SUS mostram que os jovens (Fábio tinha 35 anos de idade) são as vítimas diretas dos acidentes de trânsito. Entre os jovens de 20 a 39 anos se concentram 45% das mortes. A juventude está morrendo nas estradas.

Um estudo da Coppead, Instituto de Pós-graduação e Pesquisa em Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro, mostra que, contando apenas mortes registradas em rodovias federais policiadas, a taxa de óbitos por mil quilômetros de estrada é de 106,8 no Brasil. A mesma comparação produz uma taxa de 10,1 mortes na Itália, 10,5 na Alemanha e 6,6 nos Estados Unidos.

Precisamos ir na contramão desses números. Ou brecamos imediatamente essa carnificina ou veremos tantos outros lutadores que, assim como o Fábio, interromperão prematuramente suas vidas, deixando de contribuir por um país mais humano e menos violento. Que o exemplo de vida militante do Fábio no guie nessa caminhada.

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