Ventos

A lua está cheia, mas poderia estar do formato que quisesse. 

A porta está aberta, nenhum compromisso para hoje.  Posso sair e virar a noite abrindo as pernas e assobiando, rindo alto e mapeando estradas desconhecidas. A lua está cheia, mas poderia estar do formato que quisesse.  Posso gritar e me embriagar, chegar depois do sol. As pernas conseguem andar o bastante, nem preciso tomar café, sem sono algum. 

Hoje, o som das ruas está mais agradável. Desliguei o jazz que sempre acalma, mas infelizmente o repertório estava como uma sopa sem verdura e sal, intolerável.  Estou pronto: banhado, cheiro na validade e roupa limpa. Na carteira, tenho o suficiente para esquecer o meu nome e o caminho de casa. 

Parece-me que os lugares estão fechados. Vejo pela fresta um redemoinho e uma criança rodopiando sem conseguir se segurar. O vento é tão forte que abafa o pedido de socorro da criança.  Do lado de fora parece perigoso. O redemoinho não para: É a porta fechada da rua.

Tranco a porta. Apago a luz, tento dormir, tenho medo de redemoinhos.

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