Vestido na poesia

Fez um poema para filha bordado num vestido longo de ternura e esperança e ainda sobrou palavras e tecido que daria outro vestido

Foto: Cottonbro/Pexels

Estava certo que no dia seguinte encontraria a filha. Ela que já sabia se vestir sozinha e colocar batom sem borrar os lábios.  O poeta foi fazer versos, juntou palavras, organizou algumas, descartou outras e foi lendo em voz alta para se escutar.  Iniciou à noite e só parou na madrugada do dia seguinte, quando o sol já estava perto de aparecer. Fez um poema para filha bordado num vestido longo de ternura e esperança e ainda sobrou palavras e tecido que daria outro vestido.

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O vestido estava impecável, costurado e bordado com delicadeza. Dobrou com cuidado e embalou em caixa vermelha de veludo. O hábito de presentear era tão constante quanto o café da manhã.  Tudo pronto para surpresa. A filha desapareceu junto com o batom. A última vez que foi vista usava uma calça preta de algodão leve e uma blusa vermelha com a estampa de Frida.   

O poeta ficou com o poema vestido e desde aquele dia tenta não demorar tanto tempo na poesia. 

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