Vitória a qualquer custo
A primeira vez que li o título acima o achei demasiado forte. Ainda mais por se tratar de uma biografia do lendário General Giap, escrita justamente por um coronel reformado do Exército dos Estados Unidos (Cecil B. Currey). Já de cara, pareceu-me uma justificativa à derrota dos EUA, como se o inimigo (Vietnã) não hesitasse em usar de todos os meios para ganhar a guerra, mesmo a expensas do sacrifício de milhões de vidas.
Publicado 10/10/2013 10:49
Mas foi só começar a ler o livro* para romper com essa visão deformada. De fato, nada pode ser mais ansiado do que a independência e a soberania de um povo. E nesse sentido, busca-se a vitória incessantemente, custe o que custar. É como escreveu Sun Tzu, em a Arte da Guerra: “A Guerra é tema de importância vital para o Estado; é um assunto de vida ou morte; o caminho da sobrevivência ou da ruína.
E foi justamente esse espírito de devoção à pátria, de renúncia à própria vida e de vontade inabalável em vencer três potências militares (Japão, França e EUA) que moveram o povo vietnamita, comandado por Ho Chi Mihn e um professor de história conhecido como Giap, rumo às mais épicas vitórias.
Vitória a qualquer custo é mais que uma biografia do General Vo Nguyen Giap. É um estudo meticuloso das razões que levaram três das grandes potências do mundo a serem derrotadas por um pequeno país asiático. E um dos motivos está na genialidade de Giap em apoiar-se na “habilidade de aprender, modificar as suas táticas e motivar uma nação inteira a lutar até a morte, sacrificando tudo para a vitória”, como afirma o autor.
Logo na introdução Currey chama atenção para o fato de que “esse líder militar asiático autodidata (Giap) aprendeu a arte da guerra combatendo. No curso de uma longa carreira, Giap enfrentou soldados da França, do Japão, dos Estados Unidos, da República do Vietnã (seus compatriotas do Sul), do Camboja e da China. Talvez nenhum outro general tenha combatido tantos inimigos diferentes com tamanho sucesso, ainda que permaneça relativamente obscuro no Ocidente”. Realmente, por ocasião da morte de Giap na semana passada (04/10), aos 102 anos de idade, pouco se repercutiu na imprensa convencional ocidental. Fosse Giap um General francês, por exemplo, serial alçado a um patamar mais elevado que Napoleão Bonaparte.
Mas Giap não foi apenas um gênio militar – tal como é destacado no livro de Currey. Giap era um revolucionário. Foi destacado dirigente comunista e grande estudioso do marxismo-leninismo. Já em 1926, aos 15 anos de idade, “arrebatado pelas ideias de revolucionários cosmopolitas em outros lugares, Giap avidamente leu textos em língua francesa de Nguyen A Quoc (pseudônimo de Ho Chi Minh) e estudou as obras de Marx e Lênin”. Essa formação teórica e revolucionária marxista fez de Giap ser chamada pelos ocidentais de o “Napoleão Vermelho”.
A maior demonstração de reconhecimento e homenagem a este herói das forças democráticas, patrióticas e progressistas, por ocasião de seu falecimento, é o estudo de sua vida e obra. Vitória a qualquer custo, editado pela Biblioteca do Exército, é uma boa dica e um ótimo começo.
* CURREY, C. B. Vitória a qualquer custo. Biblioteca do Exército Editora. Rio de Janeiro. 2002.