Havia uma aposta surda nos bastidores da política sobre qual seria o comportamento de Temer nesse “1º tempo do golpe”. Faria mediações, buscando equilibrar as demandas do movimento social com as exigências da classe dominante que patrocinou o golpe, ou adotaria prioritariamente a pauta do patronato da Fiesp, os novos donos do “governo”?
O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu em 05.05.16, à unanimidade, acatar o pedido do Ministério Público Federal (STF), peticionado em dezembro de 2015, e suspender Eduardo Cunha (PMDB) do exercício do mandato e da presidência da Câmara dos Deputados.
O mundo inteiro tem presente que o que está ocorrendo no Brasil é um golpe. Essa talvez tenha sido a maior derrota da direita brasileira nesse embate, daí o incômodo e a cruzada que faz para se livrar da pecha de golpista. Inútil. Os fatos falam por si só.
Quando o general romano Caio Júlio Cesar foi cercado e assassinado a punhaladas nos idos do século I da era cristã, ele identificou o seu filho entre os conspiradores. Seu espanto e decepção foram tamanhos que a frase “até tu, Brutus, meu filho?” foi imortalizada como sinônimo de traição e ingratidão.
Após fazer uma cruzada para impedir que a presidenta Dilma Rousseff nomeasse Lula como seu ministro, a direita acaba de criar a categoria de "doação legal mas oriunda de propina", numa demonstração de que a sua desfaçatez golpista passou de todos os limites.
A luta política está alcançando seu ápice de radicalização. Enquanto milhões de trabalhadores ocupam às ruas defendendo a liberdade e o respeito à institucionalidade democrática, os patrões aglutinados em torno da Federação das Indústrias de São Paulo (FIESP) deixaram de lado qualquer sutileza e passaram a defender abertamente o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.
A direita sempre foi covarde, razão pela qual invariavelmente terceiriza a execução de seus projetos golpistas. Utiliza o aparelho de estado para atacar seus adversários e usurpar o poder político, por qualquer método ao seu alcance. Se a situação lhe é favorável até disputa eleições, mas está sempre disposta a recorrer a golpes militares ou a qualquer outro expediente escuso para controlar o governo.
Qualquer analista, com um mínimo de isenção, terá que reconhecer que os atos em defesa do golpe (13) e contra o golpe (18) foram manifestações expressivas. O que as diferencia é o perfil dos manifestantes e a pauta de reivindicações.
Os atos de domingo (13) mantiveram, no fundamental, o conteúdo das manifestações anteriores e o perfil dos manifestantes: ricos, bem empregados, ideologicamente de direita.
Na semana passada, analisei que a direita se preparava para o “assalto final”, o que foi inteiramente confirmado com a arrogância e a truculência da condução coercitiva do presidente Lula, que sequer foi convidado quanto mais intimado a depor. O episódio dá bem a dimensão do nível da batalha que, agora, tende a tomar às ruas.
Numa luta política é preciso, como bem definiu Sun Tzu, conhecer o terreno em que se dará o combate, a força do inimigo e a sua própria força. Na combinação adequada desses fenômenos e na clareza de tomada de decisões reside, no fundamental, o sucesso de um combate.
A rigor só se tem um problema quando não se dispõe de meios para enfrentar e resolver adequadamente o impasse. Quando se dispõe dos mecanismos apropriados ou tem como mobiliza-los, não se tem um problema e sim um desafio a superar. É o caso do Brasil.