Onde nasci não se falava muito em dia de Natal, era Dia do Nascimento, conforme escrevi em "O espírito dos natais passados: Natal ou Dia do Nascimento?" (23.12.2008). O centro da comemoração era o Menino Jesus, daí a imperiosa presença dos presépios e da "tiração de reis" – apresentação de reisados, iniciados na véspera do Dia do Nascimento, indo até ao Dia de Reis, 6 de janeiro. Os reisados são autos natalinos de uma beleza indescritível.
É um dito popular sobre o poder curativo do mel de tiúba, cujo uso medicinal remonta a tempos imemoriais. A tiúba (Melipona compressipes fasciculata) é do grupo das abelhas sem ferrão (as meliponinas), nativas dos trópicos, que no Brasil são mais de 400 espécies. O mel de tiúba é alimento e remédio valiosos. Amo coalhada adoçada com mel de tiúba! Em minha infância até a idade adulta, a palavra mel significava sempre que era mel de tiúba, dada a sua prevalência no médio sertão do Maranhão.
Quando aparecia alguém lá em casa para filar consulta, meu avô Braulino bradava: "Não se faz médico a facão. Eu sei!" Esbravejava: "Acham que doutora vive de brisa". Se pediam remédio, ele irava: "Oxente, e aqui virou farmácia?". A lembrança é a propósito da canseira inútil das acirradas e passionais discussões sobre a "lei do ato médico".
Sou fascinada por remédios caseiros. Chás, nem se fala! Sou avessa a remédios, embora não sei se de difícil adesão porque depois de adulta jamais precisei de medicamentos de modo contínuo. Enfim, coisas de quem tem saúde de ferro e jamais faltou ao serviço, desde 1979, quando comecei a trabalhar. Sou de esperar a dor passar sem tomar nada.
Graças à santíssima ignorância por falta de memória, alguns riram quando Lula aconselhou Obama a fazer um Sistema Único de Saúde (SUS), que universaliza o acesso à saúde às expensas dos três níveis de governo, sob o lema: "Saúde é direito de todos e dever do Estado", baseado no tripé: universalidade, integralidade e equidade.
A ministra Dilma Rousseff exibiu o mais cristalino estilo Maria Moura ao falar sobre o incidente elétrico (blecaute) de Itaberá. Um brilho só! Foi curta e finalizadora: "Uma coisa é blecaute. Ninguém pode prometer que não haverá interrupção. O que nós prometemos é que não haverá mais racionamento neste país". No popular: blecaute é interrupção passageira e racionamento é barbeiragem!
Acabei de crer também que quem não tem senso de loção não educa ninguém. A Uniban deu atestado. Fala por si o título da nota paga – "Responsabilidade educacional – A educação se faz com atitude e não com complacência" – para "Desligar a aluna Geisy Vila Nova Arruda do quadro de alunos da instituição em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade".
Os assuntos são inúmeros. Deixam a gente zonza. Informação demais em algum momento nos exaure. Mas muvuca pouca é besteira. A vida política do país está uma zoeira só. Em horas assim tenho vontade de sumir e virar lenda. Em nome da honestidade intelectual digo que está difícil demais focar em apenas um assunto para palpitar. Tentar, até que tentei.
Conversava com uma amiga quando soltei que alguém não valia uma pitomba, então nada de perder tempo com o dito cujo. Ela indagou: "O que é valer ou não uma pitomba?" Às vezes falo coisas de difícil entendimento pra gente brasileira "não-nordestina-maranhense". No Brasil, os dialetos, como as culturas, são inúmeros.
"De tudo que é nego torto/ Do mangue e do cais do porto/ Ela já foi namorada/ O seu corpo é dos errantes/ Dos cegos, dos retirantes/ É de quem não tem mais nada." São versos de qual música? E os seguintes: "Joga pedra na Geni/ Joga bosta na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir/ Ela dá pra qualquer um/ Maldita Geni." Versos de "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque, 1978.
Usufruo bastante das benesses tecnológicas da contemporaneidade que considero essenciais ao meu modo de estar no mundo. Todavia, de uns tempos para cá, tenho a impressão de que, para algumas pessoas, sou do tempo das cavernas. Tudo porque não tenho celular! Nada de ludita. Apenas defendo para meu consumo pessoal o uso racional da tecnologia – uma subjetividade e um modo de simplificar minha vida.
Em curso em Belo Horizonte (de 3 a 7 de outubro) dois eventos sobre saúde da população negra: o 5º Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias e o Encontro Pan-Americano para Doença Falciforme (Opas/OMS). O enfoque de ambos é a discussão e socialização de práticas inovadoras em relação aos aspectos científicos, clínicos e assistenciais do tratamento e acompanhamento das pessoas com doença falciforme e talassemia.