A esquerda bem informada
A esquerda bem informada

Fatima Oliveira

Médica e escritora. É do Conselho Diretor da Comissão de Cidadania e Reprodução e do Conselho da Rede de Saúde das Mulheres Latino-americanas e do Caribe. Indicada ao Prêmio Nobel da paz 2005.
Os rituais gastronômicos do Natal celebram o Menino Jesus?

Onde nasci não se falava muito em dia de Natal, era Dia do Nascimento, conforme escrevi em "O espírito dos natais passados: Natal ou Dia do Nascimento?" (23.12.2008). O centro da comemoração era o Menino Jesus, daí a imperiosa presença dos presépios e da "tiração de reis" – apresentação de reisados, iniciados na véspera do Dia do Nascimento, indo até ao Dia de Reis, 6 de janeiro. Os reisados são autos natalinos de uma beleza indescritível.

Deixa chover canivete que o resto o mel de tiúba resolve

É um dito popular sobre o poder curativo do mel de tiúba, cujo uso medicinal remonta a tempos imemoriais. A tiúba (Melipona compressipes fasciculata) é do grupo das abelhas sem ferrão (as meliponinas), nativas dos trópicos, que no Brasil são mais de 400 espécies. O mel de tiúba é alimento e remédio valiosos. Amo coalhada adoçada com mel de tiúba! Em minha infância até a idade adulta, a palavra mel significava sempre que era mel de tiúba, dada a sua prevalência no médio sertão do Maranhão.

Não há mistério: desde sempre, o ato médico é o fazer médico

Quando aparecia alguém lá em casa para filar consulta, meu avô Braulino bradava: "Não se faz médico a facão. Eu sei!" Esbravejava: "Acham que doutora vive de brisa". Se pediam remédio, ele irava: "Oxente, e aqui virou farmácia?". A lembrança é a propósito da canseira inútil das acirradas e passionais discussões sobre a "lei do ato médico".

Dr. Osano, cloranfenicol, oito reses e cá estou viva

Sou fascinada por remédios caseiros. Chás, nem se fala! Sou avessa a remédios, embora não sei se de difícil adesão porque depois de adulta jamais precisei de medicamentos de modo contínuo. Enfim, coisas de quem tem saúde de ferro e jamais faltou ao serviço, desde 1979, quando comecei a trabalhar. Sou de esperar a dor passar sem tomar nada.

O maior mérito do SUS é a extinção do indigente da saúde

Graças à santíssima ignorância por falta de memória, alguns riram quando Lula aconselhou Obama a fazer um Sistema Único de Saúde (SUS), que universaliza o acesso à saúde às expensas dos três níveis de governo, sob o lema: "Saúde é direito de todos e dever do Estado", baseado no tripé: universalidade, integralidade e equidade.

Será Filoctetes a chave para entender a ministra Dilma?

A ministra Dilma Rousseff exibiu o mais cristalino estilo Maria Moura ao falar sobre o incidente elétrico (blecaute) de Itaberá. Um brilho só! Foi curta e finalizadora: "Uma coisa é blecaute. Ninguém pode prometer que não haverá interrupção. O que nós prometemos é que não haverá mais racionamento neste país". No popular: blecaute é interrupção passageira e racionamento é barbeiragem!

Quem não tem senso de loção cria conflito de fragrâncias

Acabei de crer também que quem não tem senso de loção não educa ninguém. A Uniban deu atestado. Fala por si o título da nota paga – "Responsabilidade educacional – A educação se faz com atitude e não com complacência" – para "Desligar a aluna Geisy Vila Nova Arruda do quadro de alunos da instituição em razão do flagrante desrespeito aos princípios éticos, à dignidade acadêmica e à moralidade".

Pare o mundo que eu quero descer pra virar lenda

 Os assuntos são inúmeros. Deixam a gente zonza. Informação demais em algum momento nos exaure. Mas muvuca pouca é besteira. A vida política do país está uma zoeira só. Em horas assim tenho vontade de sumir e virar lenda. Em nome da honestidade intelectual digo que está difícil demais focar em apenas um assunto para palpitar. Tentar, até que tentei.

Dilema linguístico: entre valer ou não uma pitomba

Conversava com uma amiga quando soltei que alguém não valia uma pitomba, então nada de perder tempo com o dito cujo. Ela indagou: "O que é valer ou não uma pitomba?" Às vezes falo coisas de difícil entendimento pra gente brasileira "não-nordestina-maranhense". No Brasil, os dialetos, como as culturas, são inúmeros.

A Geni do Nobel da Paz atende pelo nome de Barack Obama

"De tudo que é nego torto/ Do mangue e do cais do porto/ Ela já foi namorada/ O seu corpo é dos errantes/ Dos cegos, dos retirantes/ É de quem não tem mais nada." São versos de qual música? E os seguintes: "Joga pedra na Geni/ Joga bosta na Geni/ Ela é feita pra apanhar/ Ela é boa de cuspir/ Ela dá pra qualquer um/ Maldita Geni." Versos de "Geni e o Zepelim", de Chico Buarque, 1978.

O fetiche das tecnologias de comunicação contemporâneas

Usufruo bastante das benesses tecnológicas da contemporaneidade que considero essenciais ao meu modo de estar no mundo. Todavia, de uns tempos para cá, tenho a impressão de que, para algumas pessoas, sou do tempo das cavernas. Tudo porque não tenho celular! Nada de ludita. Apenas defendo para meu consumo pessoal o uso racional da tecnologia – uma subjetividade e um modo de simplificar minha vida.

A anemia falciforme revela os legados de nossos ancestrais

Em curso em Belo Horizonte (de 3 a 7 de outubro) dois eventos sobre saúde da população negra: o 5º Simpósio Brasileiro de Doença Falciforme e outras Hemoglobinopatias e o Encontro Pan-Americano para Doença Falciforme (Opas/OMS). O enfoque de ambos é a discussão e socialização de práticas inovadoras em relação aos aspectos científicos, clínicos e assistenciais do tratamento e acompanhamento das pessoas com doença falciforme e talassemia.

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