Preferia não escrever agora sobre o assunto, mas um desabafo pelo menos cabe: como é difícil encarar a derrota!
Parece incrível, mas é fato. Em meio à grande festa nacional em que se converteu a Copa do Mundo e às expectativas apaixonadas dos brasileiros quanto às chances de levarmos a taça, há quem torça contra. A maioria dos que praticam esse antipatriotismo de ocasião se mantém na moita, mas não são poucos os que abrem o jogo: o receio de que, vitoriosa, a seleção canarinho termine contribuindo para uma provável vitória de Dilma nas eleições de outubro.
Comparações em geral são frágeis, quando se trata de fenômenos muito distintos, submetidos a uma gama de variáveis próprias. O evolver da situação política em diferentes países, por exemplo, quase sempre envolve elementos de essência que guardam distância de anos luz entre si, a começar da formação histórica, econômica social, cultural de cada um. “Na China é assim, bem que poderia ser aqui também…”, não tem nada a ver.
Na TV, uma enxurrada de reportagens sobre a Copa do Mundo – todas as Copas. Revividas, revistas e reinterpretadas por mil ângulos. Dados curiosos, informações preciosas sobre craques do passado e os destaques de cada time atual – e todos os têm, até as menos expressivas seleções, em geral atletas que prestam seus serviços em campeonatos europeus.
Literalmente derrubado por severa virose, eis que encontro tempo, e disposição, para ver TV – e me deparo com uma brusca mudança no conteúdo das pautas jornalísticas. O noticiário e programas de amenidades dedicam tempo quase exclusivo à Copa do Mundo.
Refiro-me ao Programa em dois sentidos: como instrumento de convergência e unidade nas coalizões partidárias celebradas em torno das candidaturas presidenciais e para os governos estaduais; e como diferencial da intervenção do PCdoB na cena política.
Li agora que em vários lugares formam-se animadas concentrações de colecionadores de um álbum de figurinhas da Copa do Mundo. Gente de todas as idades, muitos adultos de cabelos grisalhos – bendita nostalgia – dão-se ao prazer do troca a troca.
Toda intenção é válida, pelo menos até que o crivo da prática a julgue. Vale para todas as esferas da vida, vale em especial para a atividade política. Um exemplo marcante é a difusão e a aplicação do Programa Socialista, tarefa de primeiro plano para os militantes do PCdoB.
Em certa medida, a assertiva de Marx, no 18 Brumário de Luís Bonaparte, de que o curso dos acontecimentos muitas vezes é determinado por fatores objetivos e foge à vontade dos atores presentes na cena política, cabe na apreciação de um fenômeno recorrente em eleições majoritárias no Brasil: a polarização entre candidaturas que representam projetos opostos.
Tempo de eleições gerais, oportunidade impar para elevar o nível do debate acerca dos rumos do País. Por enquanto, nesse quesito, observam-se tão somente escaramuças entre os contendores principais – na verdade, entre as duas candidaturas oposicionistas, de um lado, e a presidenta Dilma do outro. Nada de verdadeiramente substancial vem à tona. Mesmo quando se aborda o desempenho da economia, tema contaminado por artifícios midiáticos e pela distorção dos fatos.
O tema é recorrente e vem à tona em debates e entrevistas acerca do cinquentenário do golpe militar de 1964. Sempre há alguém indagando sobre a experiência dos jovens resistentes à ditadura, comparando-a com o perfil de líderes e ativistas estudantis de hoje – numa tendência a mistificar a geração de 88 e subestimar a rebeldia e o desprendimento que movem os atuais combatentes.
No âmbito dos partidos políticos, tudo ou quase tudo agora gira em torno das eleições gerais de outubro. Cada um encara a empreitada a seu modo, tendo como objeto de desejo o voto. Com o PCdoB isto também ocorre, tamanha a importância do pleito no atual estágio da luta política no Brasil.