Outro dia ouvi Carlos Heitor Cony comentar uma crônica de Machado de Assis a propósito de um acidente fatal com um bonde elétrico recém-implantado no Rio de Janeiro. Machado se queixava dos riscos do novo meio de transporte, sugerindo ser preferível o bonde puxado a cavalos, que pelo menos não ameaçava os usuários com eventuais choques elétricos. “A Humanidade avança às cegas”, arrematava Cony, afirmando que o progresso inevitavelmente vem com virtudes e defeitos.
Folheio revistas antigas misturadas a jornais e livros amontoados num canto da sala. Deparo-me com uma página de amenidades onde se faz uma enquete com alguns personagens conhecidos chamados a apresentar dez desejos ou promessas que alimentam para o novo ano. Tem de tudo: mudança de temperamento, viagem à Índia, geração de um primeiro filho, realização profissional, aprender mandarim e que tais.
Quem vive alegremente o réveillon há de ter experimentado pelo menos uma das muitas “simpatias” destinadas a explicitar desejos e a atrair bons fluidos para realiza-los no novo ano que se inicia. Aqui em São José da Coroa Grande, praia do litoral sul de Pernambuco fronteiriça com as Alagoas, onde há anos vivemos em família a passagem de ano, faz parte de nossa rica e variada mise-en-scène colocar três uvas numa taça de champanha, fechar os olhos, e em segredo fazer três pedidos.
Tempo de retrospectiva, inclusive daquelas enfadonhas e repetitivas das redes de TV, jornais e revistas semanais. Mas necessárias – para que se tenha noção do terreno onde pisamos.
Discutem-se limites e possibilidades da Comissão da Verdade recém instituída por Lei sancionada pela presidente Dilma. Sob muitos ângulos a questão é considerada, até com atenção demasiada a problemas técnicos e de procedimento, em alguns casos. É preciso atentar, entretanto, para dois problemas de fundo.
Evidente que todo e qualquer tema deve ser tratado com a abrangência e a profundidade que a seriedade recomenda. Sobretudo quando se trata de algo de interesse público – como o impasse da mobilidade urbana que aflige a quase totalidade das cidades grandes e médias do País.
Na história institucional brasileira sinuosa tem sido a trajetória dos partidos políticos. Não apenas no Império e na República Velha, quando quase inexistia prática democrática, mas mesmo após a Revolução de 30, quando se desencadeou um período de transformações significativas na sociedade.