A reforma política é uma espécie de ícone da tergiversação. Todos dizem que a desejam, mas a grande maioria dos que assim se posicionam – de fachada – trabalham contra. Confundir alhos e bugalhos tem sido o expediente mais comum.
Dito e feito – essa expressão popular tão comum, destinada a elogiar a coerência entre a palavra e a prática, não cabe bem na atual fase que antecede as démarches entre os partidos, tendo em vista o pleito de outubro. Até o Carnaval, muito pode ser dito, nem sempre na intenção ou na possibilidade de fazer.
Por viajar com certa frequência, faz muito tempo perdi o fascínio que tinha (quando criança) por andar de avião. Antigamente, nos bons tempos da Varig de generoso serviço de bordo, fazia gosto. Aperitivo (não raro um bom uísque), a refeição principal, cafezinho ao ponto e licor para arrematar. Coisa do século passado.
Outro dia ouvi Carlos Heitor Cony comentar uma crônica de Machado de Assis a propósito de um acidente fatal com um bonde elétrico recém-implantado no Rio de Janeiro. Machado se queixava dos riscos do novo meio de transporte, sugerindo ser preferível o bonde puxado a cavalos, que pelo menos não ameaçava os usuários com eventuais choques elétricos. “A Humanidade avança às cegas”, arrematava Cony, afirmando que o progresso inevitavelmente vem com virtudes e defeitos.
Folheio revistas antigas misturadas a jornais e livros amontoados num canto da sala. Deparo-me com uma página de amenidades onde se faz uma enquete com alguns personagens conhecidos chamados a apresentar dez desejos ou promessas que alimentam para o novo ano. Tem de tudo: mudança de temperamento, viagem à Índia, geração de um primeiro filho, realização profissional, aprender mandarim e que tais.
Quem vive alegremente o réveillon há de ter experimentado pelo menos uma das muitas “simpatias” destinadas a explicitar desejos e a atrair bons fluidos para realiza-los no novo ano que se inicia. Aqui em São José da Coroa Grande, praia do litoral sul de Pernambuco fronteiriça com as Alagoas, onde há anos vivemos em família a passagem de ano, faz parte de nossa rica e variada mise-en-scène colocar três uvas numa taça de champanha, fechar os olhos, e em segredo fazer três pedidos.
Tempo de retrospectiva, inclusive daquelas enfadonhas e repetitivas das redes de TV, jornais e revistas semanais. Mas necessárias – para que se tenha noção do terreno onde pisamos.
Discutem-se limites e possibilidades da Comissão da Verdade recém instituída por Lei sancionada pela presidente Dilma. Sob muitos ângulos a questão é considerada, até com atenção demasiada a problemas técnicos e de procedimento, em alguns casos. É preciso atentar, entretanto, para dois problemas de fundo.