A cúpula da fome, a especulação e a falta de comida

A Cúpula sobre a Segurança Alimentar da Organização das Nações  para Agricultura e Alimentação (FAO) que se realiza em Roma, tem recebido a alcunha de ''Cúpula da Fome''. São relevantes as questões tratadas neste conclave, mas se destaca o fato de em pleno Século XXI, 862 milhões de pessoas passarem fome no Planeta. Tal tragédia é uma demonstração patente da afirmação de que o capitalismo não consegue dar reposta às necessidades elementares da humanidade.



Jacques Diouf, diretor-geral da FAO em um dos seus pronunciamentos citou alguns dados que demonstram as mazelas do sistema reinante. Em 2006, disse ele, o mundo gastou US$ 1,2 trilhão em armamentos, e o desperdício de comida atingiu várias dezenas de bilhões de dólares. Lembrou ainda a verdade grotesca de que o excesso de consumo dos obesos gira em torno de U$S 20 bilhões. Em contraponto, a tais cifras a Cúpula da FAO tenta arrecadar U$S 30 bilhões para socorrer o setor agrícola dos países pobres. Diouf alerta que se esta e outras medidas não forem tomadas vários países poderão ser sacudidos por conflitos derivados da falta de comida.



O presidente Lula, aplaudido nesse evento, enumerou seis fatores para a elevação dos preços dos alimentos: altas do preço do petróleo, mudanças cambiais, baixa do estoques reguladores, mais pessoas comendo e o protecionismo agrícola dos países ricos. O presidente apontou, também, o etanol do milho (produzido, sobretudo pelos Estados Unidos da América) como uma dessas causas. Lula defendeu o etanol da cana-de-açúcar produzido pelo Brasil, que não compromete a produção de alimentos. ''O bom etanol ajuda a despoluir o planeta e é competitivo. O mau etanol depende das gorduras dos subsídios'', disse.



A crítica do presidente brasileiro está em consonância como o estudo da FAO. Segundo, Diouf de US$ 11 bilhões a US$ 12 bilhões foram usados como subsídios para biocombustíveis. O que resultou segundo ele no ''desvio 100 milhões de toneladas de cereais do consumo humano para satisfazer a sede dos veículos por combustível''. O milho estadunidense é a estrela desse desvio.



Sobre os subsídios, os documentos da FAO  apontam, ainda, que os países da OCDE (os 30 mais ricos do mundo) gastaram US$ 372 bilhões, em 2006, para apoiar sua agricultura ineficiente. Essa política agrícola do chamado primeiro mundo capitalista fecha os mercados e provoca uma atrofia na agricultura dos paises pobres e em desenvolvimentos.



Ecoaram, também, na Cúpula os efeitos desastrosos da especulação financeira com alimentos. A depreciação do dólar, a instabilidade provocada pela crise estadunidense provocou a migração de especuladores para o ramo dos alimentos. Estudos dão conta que nos meses de fevereiro e março últimos, os fluxos de investimentos nos mercados futuros de commodities chegaram ao montante de U$S 1 bilhão por dia, contribuindo para aumentar o preço dos produtos ao consumidor.



As articulações e formação de blocos de países pobres e em desenvolvimento são imprescindíveis para enfrentar essa lógica desumana das grandes potências capitalistas sem o que o número de famintos e o nível de pobreza tenderão a se agravarem. No âmbito dessa realidade trágica, a esperança vem dos países socialistas e dos países regidos por governos democráticos e populares. Por exemplo, a China socialista retirou mais de 200 milhões de pessoas da linha de pobreza; o Vietnã, outros milhões. Na América do Sul, os governos de Lula, Chávez, Morales, Vasquez, Caldeira, entre outros, conseguem também vitórias importantes no regaste da dívida social com seus povos.