A disputa na Câmara e o futuro da frente

O deputado eleito Ciro Gomes (PSB-CE) fez nesta terça-feira um apelo “por entendimento” nas bases de apoio do governo Lula, face à cisão em duas candidaturas para a presidência da Câmara. Falou com a autoridade de presidenciável de 2002, ex-ministro da Integração Nacional e segunda maior votação para a Câmara, nas urnas de outubro, mas sobretudo com a autoridade dos argumentos sólidos.



“Acho uma marcha da insensatez duas forças aliadas, que acabaram de sair de provas gravíssimas diante de toda opinião pública brasileira, não encontrarem uma fórmula ainda que complexa de sairmos todos desse episódio unidos”, afirmou, referindo-se às candidaturas concorrentes de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP), ambos da base governista.



Ciro e a bancada socialista na Câmara estão engajados na campanha de Aldo. O deputado e senador eleito Renato Casagrande (PSB-ES) atua mesmo como porta-voz informal da candidatura. Na TV Câmara, segunda-feira, foi ele quem apoiou, lembrando que ''ninguém vai para a guerra com revólver de tinta'', as duras palavras de Aldo no final do debate com Chinaglia e o também candidato Gustavo Fruet (PSDB-PR).



 “Não creio que, em nome da democracia e do equilíbrio dos poderes de um país se dê ainda mais força e poder a um único partido. Não julgo prudente, não julgo equilibrado, não julgo bom, nem para a democracia, nem para o país, nem para o próprio Partidos dos Trabalhadores, a concentração de tanto poder em suas mãos”, disse então o atual presidente da Câmara.



No fundo é este o divisor de águas entre as duas candidaturas da base governista, que ao que parece marcham para o segundo turno nesta quinta-feira (1º). A escolha será entre um leque plural e frentista ou “mais força e poder” para o PT, na Câmara, na coalizão governista, e por vias tranversas no governo.



É nesta perspectiva que Ciro se manifesta. “Estou preocupado porque a eleição para a Mesa da Câmara não é a única discussão que está em jogo aqui. O que está em discussão é a qualidade do governo Lula, que dependerá de um bom cimento político que nós estamos tentando montar”, advertiu.



Os partidos políticos, como as pessoas, aprendem, ou ao menos são capazes de aprender. O PT, fundado em 1980, levou oito anos e quatro eleições para estrear as suas primeiras coligações eleitorais, em 1988. Dezoito anos mais tarde, já teve tempo e experiências suficientes para concluir: hegemonia se constrói na disputa de idéias e no amálgama de consensos; não se impõe por deliberação da bancada de uma sigla, por numerosa e bem votada que seja a bancada, e por estelar que seja a sigla.