A pandemia da Covid-19 e o capitalismo sem maquiagem

Em momentos de grandes crises, o capitalismo se desnuda por inteiro, aparece, sem maquiagem, sua essência de exploração, de desigualdades, de total incapacidade de fazer partilhar as conquistas da ciência com o conjunto da humanidade. A dimensão da solidariedade é esmagada pelo exclusivismo que assegura a poucos o direito à vida, que deve ser de todos e todas.

É o que revelam as manchetes de jornalões insuspeitos de serem adeptos do esquerdismo. Países ricos, dizem as notícias, já estocaram, por meio de contratos, vacinas contra a Covid-19 seis vezes superiores às suas populações, enquanto os países pobres somente as terão em pequenas quantidades e lá no final da fila.

A pandemia que envolveu o planeta numa crise múltipla – econômica, sanitária e social – aumentou as desigualdades e alargou a distância em termos de nível de desenvolvimento entre países do centro capitalista e pobre, ou em desenvolvimento. Em relação à pandemia, o que se viu foi a corrida desenfreada por respiradores, máscaras e outros insumos, com as grandes potências confiscando e monopolizando os estoques, deixando o demais à mingua.

Outro fato é a cruzada contra as ciências, a negação da gravidade da doença, levada à cabo, por vertente política capitalista, reacionária, de país a país, com matrizes neofascistas. Donald Trump nos Estados e Jair Bolsonaro no Brasil, para ficar só com dois exemplos, respaldados por setores da plutocracia dos respectivos países, com o negacionismo agravam a dimensão da tragédia sanitária.

Milhares de vida poderiam ter sido poupadas se no exemplo em tela esses dois presidentes não tivessem se destacado pela negligência e irresponsabilidade no combate à Covid-19. Bolsonaro vai além quando neste momento, na prática, faz campanha contra a vacina e protela ao máximo o acesso a ela.

É claro que felizmente tivemos exemplos de solidariedade entre a nações, como é caso de China, Rússia, Cuba, entre outros, que buscaram cooperar de diversas formas. Há que se destacar também o papel da Organização Mundial da Saúde (OMS), durante atacada por Trump, com um trabalho incansável de combate à pandemia e apoio aos países pobres.

Destaca-se, nesse sentido, a iniciativa Covax Facility, consórcio mundial criado para impulsionar o desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19, co-liderado pela OMS. Trata-se de uma ação global que reúne governos e fabricantes para garantir que as eventuais vacinas cheguem aos mais necessitados A iniciativa conta com recursos financeiros e científicos para garantir vacinas bem-sucedidas de uma forma econômica e acessível a todos os países.

A vergonhosa assimetria de acesso à vacina entre países ricos e pobres será um novo capítulo do aumento do fosso do nível desenvolvimento entre as nações e irá escancarar a essência cruel, desumana do capitalismo, quando impõe um apartheid, dividindo os seres humanos em pessoas de primeira e segunda categoria.