Balança comercial em queda livre compromete desenvolvimento

As conseqüências da política de altos juros do Banco Central têm implicações diretas no desempenho da economia nacional. Dados do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior divulgados ontem (22) mostram que a balança comercial brasileira continua em queda, e as projeções não são nada animadoras.


 


Na terceira semana de abril, o superávit da balança foi de US$ 260 milhões. Este valor é 79% menor que o resultado do mesmo período de 2007, quando foi de US$ 1,238 bilhão, e 18,49% inferior ao resultado da segunda semana de abril deste ano, quando o superávit foi de US$ 319 milhões.


 


A tendência de queda está relacionada a vários indicadores econômicos, mas dois deles combinados têm grande impacto no saldo da balança comercial: a elevada taxa de juros e a contínua valorização do real.


 


Essa combinação reduz os recursos disponíveis para investimentos e aumenta o fluxo de aporte no setor financeiro como meio de obter melhor remuneração ao capital. De outro lado, a desvalorização do dólar torna atrativa as importações, que vão ocupando mais espaço nas transações econômicas.


 


Ou seja, no lugar de apontar para uma política de crescimento baseado na ampliação de investimentos na indústria e produção nacional, o conservadorismo econômico que toma conta do Banco Central, apavorado pelo espectro da inflação ou se ancorando nessa desculpa, aumenta os juros e dá um golpe profundo no Brasil.


 


Os movimentos sociais, setores acadêmicos importantes, partidos políticos e intelectuais de várias áreas têm manifestado insistentemente os perigos que essa política macroeconômica adotada pelo Banco Central representa para o país e para os que defendem uma aceleração do crescimento econômico, que coloque o Brasil numa situação competitiva internacionalmente e sustentável internamente, com diminuição de desigualdades e avanços sociais.


 


Para isso, temos que ousar na carteira de exportações, incluindo produtos de maior valor agregado e não apenas commodities. Nossa carteira de exportações é composta principalmente por produtos básicos como soja e café em grão, carne de frango, bovina e suína e farelo de soja. Há uma participação também de manufaturados como óleos combustíveis, sucos, autopeças e motores, aviões, automóveis e semimanufaturados como ferro e aço.


 


Enquanto isso, os dados do ministério mostram que nas importações cresceram principalmente os gastos com adubos e fertilizantes (73,2%), combustíveis e lubrificantes (51,1%), veículos e partes (47,6%), aeronaves e peças (44,1%), borracha e obras (33,8%) e plásticos e obras (31,5%).


 


Sem estímulo à indústria nacional, à inovação tecnológica – que possa incrementar os produtos nacionais –, e à geração de emprego e renda não será possível trilhar um caminho de desenvolvimento acelerado, soberano e sustentável. E, para tudo isso ser posto em prática, é urgente alterar a rota de elevação dos juros. Não podemos ficar à mercê do Banco Central. O governo precisa agir.