Confissões de um banqueiro sobre a alta dos juros

O banqueiro Luiz Carlos Mendonça de Barros, uma das ''estrelas econômicas'' do longo mandarinato de Fernando Henrique Cardoso – foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações – pode ser classificado como um homem franco. É o que indicam as considerações que fez em sua coluna na Folha de S. Paulo sobre a elevação dos juros decidida pelo Copom no dia 15.


 


Em defesa daquela elevação – que custou, para o Tesouro Nacional a quantia de 2,9 bilhões de reais que vão para as contas bancárias dos especuladores – o banqueiro não esconde os motivos que levam conservadores como ele a defenderem a política restritiva e anti-desenvolvimentista de Henrique Meirelles e sua furma.


 


O pretexto é o de sempre: a chantagem da volta da inflação. Que, neste diagnóstico conservador, seria provocada pela demanda aquecida – isto é, pelo pequeno aumento no consumo de bens pela população mais pobre. Mesmo assim, diz Mendonça de Barros, a demanda interna está ''aquecida demais'', e é preciso aumentar os juros para que o povo consuma menos e, assim, ela possa esfriar.


 


Outro argumento, nessa linha, é a existência de um ''quadro de pressão sobre o mercado de trabalho''. Em linguagem que todo mundo entende: a recuperação do emprego é vista por ele como outra ''ameaça'' porque, nessa situação, os trabalhadores podem lutar por melhores salários, melhores condições de trabalho e jornadas menores. Isso tudo vem se traduzindo no quadro mais favorável que as negociações coletivas tem revelado nos últimos tempos. Um exemplo foi a conquista de aumentos acima da inflação em 88% dos acordos salariais assinados em 2007.


 


Gente como Mendonça de Barros vê esse quadro como nocivo. O desemprego tem caído mas continua alto, na casa dos 8%. Mas um neoliberal como ele é insensível a isso e quer taxas mais altas de desocupação para criar condições em que os trabalhadores sejam colocados de joelhos e forçados a submeter-se às pressões patronais e dos donos do dinheiro.


 


Mendonça de Barros termina seu arrazoado pregando o aumento continuado da taxa de juros, ''entrando pelos primeiros meses de 2009'' e que ultrapasse a marca de 14% (hoje é de 11,75%, suficiente para fazer do Brasil o campeão mundial dos juros altos).


 


Para ele, este aumento é necessário para provocar um ''pouso suave da economia''. Tese que revela outra insânia do pensamento conservador, a de que a economia brasileira está crescendo de forma muito rápida e precisa ser travada, cumprindo o dogma neoliberal segundo o qual o crescimento não pode ser superior a 3,5% ano ano, e o Brasil tem alcançado índices superiores a 5%.


 


Quem se beneficia com isso – com os juros altos e o tal ''pouso suave da economia''? Não são os trabalhadores, nem o povo, é claro. Quem se beneficia são aqueles que vivem da especulação e que exigem juros altos para aumentar seus ganhos.


 


Os trabalhadores, ao contrário, precisam do crescimento da economia, a taxas ainda mais altas do que as atuais. Só assim poderão ter melhores salários, uma renda mais condigna, permitindo o maior acesso aos bens de consumo. É contra esta perspectiva que se insurgem pessoas como o economista chefe do banco Quest de Investimentos.