Novo passo progressista na Argentina
A eleição de Cristina Fernández de Kirchner no primeiro turno das eleiçõesdeste domingo (28) significa mais um passo progressista, à […]
Publicado 29/10/2007 11:48
A eleição de Cristina Fernández de Kirchner no primeiro turno das eleições
deste domingo (28) significa mais um passo progressista, à esquerda, na cena política argentina.
O avanço se expressa nos números da apuração. Faltando contar menos de 4%
dos votos, Cristina tem 44,8%, bem acima da exigência legal argentina de 40%
e 10% de vantagem sobre o segundo colocado. E este é outra mulher com perfil
de centro-esquerda, embora concorrendo por uma coligação abigarrada e
oposicionista ferrenha, em nome da anticorrupção: Elisa Carrió está com
22,9%.
O menos mal votado dos candidatos do conservadorismo, Roberto Lavagna,
ex-ministro da economia, figura em terceiro lugar, com 16,8% dos votos.
Alberto Rodríguez Saá, da ala direita peronista, ficou em quarto, com 7,7%.
A esquerda oposicionista também foi mal votada: Luis Amman, do Partido
Humanista, teve 0,4%.
É um quadro bastante distinto da ''fragmentação e enfrentamentos'' de quatro
anos atrás, como lembrou Cristina no discurso da vitória, onde assinalou ter
tido talvez a maior margem de vantagem desde a democratização. No primeiro
turno das presidenciais de 2003, Néstor Kirchner ficou com 22,0% dos votos,
atrás do ex-presidente e capo da direita Carlos Menem (24,3%). Elegeu-se
porque Menem, numa cama-de-gato visando a desestabilização, renunciou à
candidatura para não perder o ''balotaje''. Menem hoje é um cadáver político –uma versão radicalizada do também ex-presidente Fernando Henrique Cardoso– embora ao votar tenha dito que ''leva a política na alma'' e não se afastará dela.
A eleição de domingo foi o reconhecimento de uma gestão que em cinco anos
somou 49% de crescimento do PIB, porque bateu de frente com os dogmas
neoliberais. Como efeito colateral, a inflação ronda as proximidades dos
dois dígitos, mas ficou para trás a grande crise de 1999-2001.
O 28 de outubro argentino também uma vitória feminina, e não só porque a
primeira e a segunda colocada são mulheres. Calcula-se que sete em cada dez
argentinos votaram em uma mulher neste domingo. Com a chilena Michelle
Bachelet, eleita no ano passado, América Latina passa a ter duas presidentes, o que é mais um sinal dos novos ventos que sopram no continente.
Que ninguém se engane com a condição de primeira dama da presidente eleita.
Cristina, como gosta de ser chamada (ou isto ou o nome completo; ''Kristina
Kirchner'', jamais) possui aos 54 anos uma carreira política com luz própria.
Militante da Juventude Peronista nos anos 70, defensora dos direitos humanos
e da emancipação das mulheres, deputada desde os anos 80, senadora no
segundo mandato, por Santa Cruz e depois por Buenos Aires, é um quadro
respeitado até pelos adversários.
A presidente eleita tende a encarnar uma variante mais incisiva do
kirchnerismo. Basta ver o modo desafiador com que conduziu o debate sobre o
apoio que recebeu de Hugo Chávez, o Grande Satã de turno da Casa Branca e
das oligarquias latino-americanas.