A Frente Nacional de Prefeitos (FNP) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) divulgaram nota alertando para os “irreparáveis prejuízos” causados pela saída dos cubanos do programa Mais Médicos em razão das mudanças drásticas que Jair Bolsonaro quer impor e que levaram Cuba a interromper a cooperação. As entidades alertam que as perdas maiores serão para os mais pobres e pedem que o futuro governo reveja posição e mantenha, em caráter emergencial, as atuais condições.
Nesta quarta-feira (14), chegou ao fim o acordo entre os governos do Brasil e Cuba que possibilitou a colaboração de médicos cubanos no território nacional. Ratificado em 2016, o programa Mais Médicos atendia 4.058 municípios de todo o país. Lideranças políticas rechaçaram postura de Jair Bolsonaro que já prejudica a diplomacia do País antes mesmo de tomar posse como presidente da República.
Iberê Lopes*
Para a deputada estadual Manuela d’Ávila (PCdoB) a saída dos profissionais cubanos do programa Mais Médicos afetará famílias pobres, crianças necessitadas e velhos em desamparo. A parlamentar pediu desculpas aos cubanos e registrou a solidariedade que eles sempre dedicaram aos povos do mundo.
Em declaração emitida pelo Ministério da Saúde Pública da República de Cuba nesta quarta-feira (14), o governo cubano anunciou a retirada dos médicos deste país que fazem parte do programa “Mais Médicos”.
Jair Bolsonaro nem assumiu o poder e já começou a provocar retrocessos. Na mesma semana em que a ONU repudiou o bloqueio imposto contra Cuba, ele disse em entrevista ao Correio Braziliense que pretende romper relações Cuba.
O Mais Médicos completa 5 anos em 2018 e o saldo do programa é extremamente positivo, avaliou o ex-ministro da Saúde Arthur Chioro. A iniciativa levou acesso à atenção básica para 24,6% da população brasileira, melhorou a qualidade no atendimento e, por isso, viu as solicitações de adesão ao programa aumentarem. Mas, apesar do sucesso, as despesas executadas do governo ao programa caíram de R$ 3 bilhões em 2017 para só R$ 1,9 milhão em 2018.
Por Verônica Lugarini
Depois de 913 municípios manifestarem interesse em aderir ao Programa Mais Médicos, por meio do edital lançado em agosto, o Ministério da Saúde informou que haverá alteração nas regras para a distribuição dos profissionais pelos municípios.
Em Havana, a sergipana Sandra Glaucia da Conceição realizou o sonho de estudar medicina. Com o programa Mais Médicos, veio a oportunidade de retornar ao Brasil e fazer diferença na vida de uma comunidade carente.
Entre janeiro de 2013 e de 2015, o número de consultas realizadas como parte da Estratégia Saúde da Família aumentou 33% nos municípios que aderiram ao programa. Já nas cidades que não estavam incluídas no Mais Médicos, o crescimento foi menos que a metade.
Que a gestão de Michel Temer não é pública nem social todos sabem. O que talvez muitos ainda não tenham se dado conta é que o sinal que passa a vigorar na política pública brasileira nesse momento é o da mercantilização. E a saúde foi uma das primeiras a sofrer o baque do golpe de 2016 já na nomeação dos ministros das pastas responsáveis pelo Mais Médicos. Tanto na Saúde quanto na Educação, a missão dos seus representantes é atender às expectativas dos empresários, ou seja, do setor privado.
O golpe parlamentar que retirou uma presidente legítima e honesta e pôs em seu lugar um político acusado de chefiar uma quadrilha segue desmontando direitos conquistados pela população brasileira mais pobre.
Miguel Rafael Acea Baró havia chegado fazia poucos meses de Cienfuegos, Cuba, para trabalhar no posto de saúde do Tucão, em Vilar dos Teles, na Baixada Fluminense, quando sentiu na pele, pela primeira vez, o preconceito. “Fui à casa de um paciente idoso e ele falou para mim que não queria ser atendido. Disse que eu era muito jovem. ‘Mas eu tenho 50 anos!’, respondi. Ele disse que não, que eu era cubano…”, lembra.