Jornalista lança blog para dizer o que pensa
Paulo Planta é poeta, jornalista profissional, sindicalizado. Editor do caderno Cidades do jornal Diário do Povo, de Campinas, Planta lança um blog (1) para falar de coisas que o dia-a-dia da profissão impede a publicação.
Publicado 25/10/2007 11:31 | Editado 04/03/2020 17:19
Vermelho-SP: Qual é a do Papo que Rola?
Planta: O Papo que rola veio para eu conversar com os meus amigos. Falar de jornalismo, de arte e brincar um pouco. Conversar de uma outra forma com a cidade, não só essa coisa meio árida que é o trabalho diário no jornal.
Vermelho-SP: Por que o editor de um jornal diário monta um blog?
Planta: No meu caso, eu tenho uma necessidade de comunicação que o jornal não comporta. Por exemplo, eu escrevo poemas e isso não cabe bem no jornal, pois eu sou editor do caderno Cidades. No blog eu posso publicar poesias e muitas outras coisas.
Vermelho-SP: Por que a poesia não tem mais espaço nos grandes jornais?
Planta: Eu não sei explicar porque o espaço cultural esqueceu a poesia. Talvez, por causa da própria característica da poesia. No dia-a-dia, se ela aparecesse muito talvez ficasse vulgarizada, ou talvez seja pela própria poesia que é uma coisa muito particular.
Vermelho-SP: Com todas as recentes inovações tecnológicas, que abrem espaço para qualquer um produzir notícias como você vê o futuro do trabalho jornalístico?
Planta: O fato de fazer um blog é para entrar nessas novas mídias e ficar por dentro do que está acontecendo. Eu acho num futuro não muito distante o jornal impresso vai ocupar um espaço menor. Não vai extinguir, mas vai reduzir.
Vermelho-SP: Mas, você trabalha num grupo jornalístico que acabou de lançar um jornal impresso – Notícias Já – voltado para as camadas populares da sociedade que ainda não têm acesso regular a microcomputadores?
Planta: Eu não penso assim. A gente tem informações recentes de que o uso de computadores cresceu bastante. Esse pessoal que lê um jornal popular, muitas vezes, tem computador em casa. Quem não tem, vai a uma lan house (2). Eu acho que todo mundo hoje já usou um computador, não tem como não usar um computador hoje em dia.
Vermelho-SP: Qual a sua opinião sobre a TV pública?
Planta: Eu acho interessante, mas tem que ser muito bem pensado, levado muito a sério. Tem que ser independente. Um bom exemplo é a Agência Brasil. Eles disponibilizam material para a gente, um material com bastante isenção e que é muito bom.
Vermelho-SP: Como você vê a campanha pela democratização dos meios de comunicação?
Planta: Eu acho que mídias, como o blog, servem para isso. Por exemplo, eu conheci, através do youtube (3), um pessoal que tem uma banda. A partir daí, a gente começou a conversar, eu publico coisas deles no blog e está funcionando. Eles estão conseguindo fazer o som deles numa mídia alternativa.
Vermelho-SP: Hoje, se discute a partidarização da imprensa. Você acha que a imprensa tem partido?
Planta: Enquanto cidadão, você tem uma posição. Não tem como você não ter uma posição e não marcar essa posição na sociedade. É impensável alguém ter uma isenção total. Isso não existe. Você é produto do meio onde você vive. Você carrega sua bagagem, as coisas que aprendeu, no trabalho que faz. Mas, enquanto jornalista, trabalhando com um meio de comunicação na mão, você pode ter que ter outra posição.
Vermelho-SP: Então você acha que a imprensa não é imparcial?
Planta: A imparcialidade total não existe, mas, a gente busca. É como eu disse, a gente carrega tudo o que aprendeu. Desde a faculdade, a gente aprende a trabalhar tecnicamente com essa questão da imparcialidade. Mas, o que a gente faz é carregado dos sentidos que a gente tem.
Vermelho-SP: E o futuro do blog, o que você pensa?
Planta: O blog é complicado porque eu tenho postado muitos vídeos e pouca gente tem acesso a eles. O acesso ainda não é grande, mas eu acho que estou conversando com gente especial. Gente que entra no blog, vê os vídeos, conversa… Eu vou brincando com ele para ver até onde vai me levar.
O papo que rola, você confere acessando: http://opapoquerola.blig.ig.com.br//
[breve dicionário cibernético – (1) blog, blogue, weblog é uma página onde um diarista (da web) relata fatos interessantes sobre diferentes assuntos; (2) lan house: é um estabelecimento comercial onde as pessoas podem pagar para utilizar um computador com acesso à internet e a uma rede local; (3) youtube: espaço, na internet, onde as pessoas podem colocar vídeos particulares para serem assistidos por outras pessoas].
De Campinas,
Agildo Nogueira Jr.