Altamiro Borges: grande mídia se comporta como partido político

A necessidade de uma comunicação sindical moderna e atuante. Este foi o tema da palestra do jornalista e secretário de comunicação do PCdoB, Altamiro Borges, no seminário realizado pela Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação do

Borges fez análise do comportamento da mídia, a partir de uma abordagem histórica e das suas características atuais. Ele procurou estabelecer a relação dos movimentos sociais, sindical e da esquerda com este problema. Para ele, há um processo de intensa concentração e internacionalização da mídia, o que acentua ainda mais o seu caráter de manipulação. Processo este que precisa ser mais decididamente combatido. 


 


A grande mídia, no mundo, está concentrada em apenas 20 grupos de comunicação. Cerca de mais de 80% da informação sobre o que acontece no mundo, que é veículada no Brasil, é produzida por agências norte-americanas. Ou seja, ''a nossa mídia enxerga pelo olhar dos Estados Unidos'', disse.


 


O jornalista criticou a atuação da mídia no país que, segundo ele, assume características de partido político. ''Ela tenta colocar na ordem do dia temas que servem para atacar o governo. Por outro lado, não divulga temas importantes para os trabalhadores e a sociedade''. Citou como exemplo os mais de nove meses em que a mídia esteve voltada para a denúncia sobre o caso extra-conjugal do ex-presidente do Senado, Renan Calheiros. ''FHC também tinha um caso extra-conjugal, e com uma jornalista da Globo. Por que não foi cassado? A mídia nunca falou disso''. O problema aí, segundo ele, é que a mídia tirou o foco de questões importantes para o país e os trabalhadores, como a emenda 3, que estava no Congresso.''Se perguntasse para alguém sobre o Renan, todo mundo sabia. Mas sobre a emenda 3, que era uma grande ameaça aos direitos dos trabalhadores, o desconhecimento seria completo.''


 


Desde o ano passado, segundo Borges, a grande mídia nacional tem acentuado este comportamento. Foi assim com o tratamento sobre o chamado ''caos aéreo'', em seguida com uma suposta ameaça de ''apagão energético'', depois com o pânico gerado em torno de uma possível epidemia de febre amarela, que também não se confirmou, e neste momento com o problema dos cartões corporativos do governo federal. ''Enquanto isso, não se fala que no governo de São Paulo há gasto muito maior, sem transparência nenhuma.''


 



A mídia desconhece a existência de temas importantes para os trabalhadores, como as convenções 151 e 158, e o debate sobre a redução da jornada. ''Nada disso é tratado pela mídia, porque a agenda dos trabalhadores não interessa.''


 


Fortalecer a comunicação sindical e alternativa e a democratização


 


Sobre o trabalho de comunicação dos sindicatos, o jornalista defendeu que o tema seja tratado ferramenta estratégica e com mais investimento. ''Os sindicatos precisam usar todos os meios de comunicação possíveis e o melhor possível. Tem que ter equipe de comunicação.''


 


Também provocou os sindicalistas a participarem mais ativamente da luta pela democratização da mídia, que considera uma das principais preocupações do momento.


 


''É preciso fortalecer os canais públicos, como é a TV Brasil que está sendo criada, e que vai servir para democratizar''. Disse também que os sindicatos podem investir mais no fortalecimento dos meios alternativos, como as rádios e tv's comunitárias. Destacou também o papel das redes colaborativas entre os comunicadores. Acha que as relações entre os que fazem comunicação alternativa são decisivas para o fortalecimento da luta contra-hegemônica. ''Temos que estabelecer sinergia entre as várias pessoas que estão pensando e fazendo comunicação'', acredita.


 



A Federação representa 42 sindicatos no estado. Sua base supera os 180 mil trabalhadores. O encontro serviu para subsidiar o projeto de comunicação da entidade.


 


Clomar Porto